domingo, 29 de abril de 2012

Terra: benção divina



Não são poucos os que dizem que o mundo está perdido e, mantendo sua visão pessimista sobre a vida na Terra, continuam destacando somente o lado negativo de fatos e pessoas. Procuram estar por “dentro das notícias” apenas com um objetivo único: destacar as deficiências da Humanidade.
Dizem que a juventude está perdida, no entanto, talvez desconheçam que há milhões de crianças e jovens nas escolas, debruçados sobre livros, ao longo de anos, envolvidos com a demorada conquista do saber. Muitos desses jovens trabalham durante o dia e estudam a noite, sacrificando a saúde, para conseguirem garantir um futuro melhor para si e para a própria família.
Dizem que a desordem anda solta, com tantos desocupados que atravessam as horas da noite a busca de prazeres ou ações criminosas. Esquecem-se dos milhares de profissionais que trabalham durante a noite, para que o nosso dia transcorra com segurança. São os profissionais da limpeza pública, os profissionais da saúde, médicos, enfermeiros, bombeiros, etc. Igualmente nas indústrias em geral, há milhares de operários que trabalham a noite, garantindo a produção de artigos que facilitam nossa vida material e aumentam nosso conforto. E quantos outros não trabalham para que as pessoas possam descansar nos períodos de férias?
Há os que criticam com tenacidade a falta de qualidade na área da saúde e louvam, com adoração, esportistas que se degradam com a notoriedade alcançada. Esquecem-se essas pessoas e nem ficam sabendo dos incontáveis pesquisadores e cientistas que passam a vida nos laboratórios a procura de medicamentos e vacinas que diminuam  o sofrimento físico.
Quantos criticam os meios de transportes e as rodovias, esquecendo-se de quantos operários anônimos tiverem seus dedos quebrados, quantos ferimentos, quantos suores e sangue, para que as estradas pudessem unir os povos.
O desequilíbrio de alguns, que são realmente minoria, não deve ser apresentado como justificativa pelo momento que atravessamos.
A misericórdia divina proporciona sempre os meios de amenizar as dificuldades da vida material, utilizando o próprio homem como instrumento de auxílio mútuo. Há milhares de pessoas suando e sofrendo, lutando e amando, para que seja possível a construção de um mundo melhor para todos. Nosso planeta ainda está em construção. Não podemos amaldiçoá-lo. Devemos nos lembrar que aqui na Terra é que encontramos as oportunidades de progresso espiritual, de que todos necessitam; não estamos aqui vivendo como condenados, nem como culpados, mas como seres em processo de aprendizado e aperfeiçoamento.
Mas, se contamos com as bênçãos que o planeta nos oferece, por misericórdia divina, ele certamente conta com nossa colaboração para que passe a ser, de fato, a morada de Espíritos bem-aventurados.
Em várias passagens do Evangelho Jesus disse que seu reino não era desse mundo. Ainda não. Um dia será. Nos mundos mais adiantados o Reino dos Céus já está instalado porque os seres que os habitam já tem instalado esse reino em seus corações. O mal não mais encontra oportunidades de se manifestar. Se o reino de Jesus ainda não é desse mundo é porque aqui o seu reino ainda não está em nossos corações.
O Espírito Emmanuel diz que Deus não nos ofertou o planeta como exílio ou prisão mas si como “escola regenerativa e abrigo santo, qual divino jardim a pleno céu, esmaltado de sol, durante o dia, e envolvido de estrelas, durante a noite.”
É aqui na Terra que encontramos aqueles a quem amamos, que temos a oportunidade de desenvolver as habilidades com as quais mais nos afinamos, de realizar conquistas no campo do bem e da verdade.
(Tema apresentado na reunião pública do dia 23 de abril de 2012)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Paris - 18 de abril de 1857


Em princípios de 1857, o livreiro E.Dentu, amigo do Professor Hyppolyte Léon Denizard Rivail, desde os idos de 1828, havia encaminhado os originais da primeira obra espírita compilada pelo referido professor à tipografia de Beau, situada em Saint Germain em Laye, 23 Km a oeste de Paris.
O proprietário da tipografia presidia normalmente os trabalhos de revisão e aprimoramento do que viria a ser a primeira obra da Codificação Espírita, quando algo inesperado sucedeu-se: sua desencarnação.
O fato logo repercutiu negativamente no andamento da obra, já que os dois filhos do tipógrafo relegaram-na ao esquecimento ao assumirem o posto do pai. Os apelos do Prof. Rivail não se fizeram ouvir e os filhos limitavam-se a dizer que a feitura da edição iria demorar muito.
Valendo-se de inspiração superior, o Prof. Rivail resolveu por bem solicitar o concurso da viúva do tipógrafo. Deliberou visitá-la em sua residência e esclareceu-lhe sobre o que se passava. A viúva, tomada de simpatia pela causa, leu os originais de “O Livro dos Espíritos”. Sentindo-se reconfortada em sua dor moral, e usando de sua autoridade perante os filhos, escreveu sobre os originais a ordem irrevogável: “TRÉS URGENT (URGENTÍSSIMO)”. A tipografia logo iniciou a impressão e o indispensável acabamento dos dois mil primeiros exemplares, em formato grande, com 176 páginas. Raiava o inesquecível dia 18 de abril daquele ano de 1857, e os editores, representados por Dentu, finalmente trouxeram a lume, na praça parisiense, a auspiciosa edição. A Cidade-Luz acabava de acolher, então, em seu seio, a luz mais brilhante e poderosa de sua historia.
Amandine Aurore Lucien Dupim
(França, 1804-1876)
Neste mesmo dia, conceituado jornal parisiense anunciava a visita a Paris da célebre escritora francesa, de pseudônimo George Sand, chamada Amandine Aurore Lucien Dupim*. A extraordinária mulher, literata das mais notáveis, era dona de uma personalidade bastante forte e de uma cultura invulgar, acostumada que estava ao convívio de amigos da vanguarda européia, como Victor Hugo, Franz Liszt e Eugene Delacroix. Fora, inclusive, a companheira, por longos anos, de Frédéric Chopin. Viera a Paris, como crítica de arte, para assistir a uma famosa peça teatral que analisava a personalidade feminina.
Amigo da escritora desde muitos anos, ele havia lido com atenção a referida nota jornalística. Eles, que já haviam trocado tantas ideias espiritualistas, certamente poderiam encontrar-se de novo. Seria gratificante a ele saber a opinião de Mme. Sand sobre “O Livro dos Espíritos”.
E assim foi que, andando pelas ruas de Paris, com o primeiro exemplar do livro nas mãos e, por isso, pleno de alegria, o professor avistou a carruagem de Sand, reconhecendo-a em seu interior. Imediatamente acenou e, cumprimentando-a, disse:
- Madame Sand, venho oferecer-lhe o primeiro livro da Doutrina dos Espíritos!
Ao que ela, surpresa, retrucou:
- Ah, Professor Denizard – ela assim o chamava – eu sei que o senhor está fazendo experiências verdadeiras. Eu mesma sou delas testemunha, porque desde quando muito jovem, observava alguém, um vulto, a me acompanhar o tempo todo, a me espreitar! De pequena, lutei muito para que os demais compreendessem o que se passava comigo, mas, em vão!... Bem, não nos importemos com as incompreensões, e sigamos avante!...  O senhor está de parabéns, professor!
 O Prof. Rivail agradeceu-lhe a acolhida fraterna, dizendo-lhe que estimaria muitíssimo ver sua apreciação da obra. Ela lhe respondeu, afável:
- Professor Denizard, guarde para si este exemplar, do qual não sou digna. Alegrar-me-ei bastante em opinar sobre ele mais tarde, quando o tempo me permitir. Atualmente, tenha a vida atribulada de compromissos. Prometa enviar-me outro volume posteriormente.
A 20 de maio do mesmo ano, Allan Kardec endereçava-lhe expressiva carta, com um exemplar de “O Livro dos Espíritos”, em anexo. Ela o recebeu e leu com atenção e, três meses depois, procurando o amigo, falou-lhe:
- Professor Denizard, gostaria muito de acompanhá-lo em suas demandas por estas ideias renovadoras de nosso mundo, mas sinto que somente iria atrapalhar seu livre desenvolvimento. Minha condição de mulher, com conceitos e comportamentos revolucionários, não ajudaria em nada a verdade que esta filosofia apresenta. Recuso-me, pois, a escrever qualquer artigo sobre este livro de luz. Eu, certamente, apenas contribuiria para obnubilá-lo. Conto com a sua compreensão e prometo, outrossim, colaborar com o senhor no que estiver ao meu alcance.
Dez anos mais tarde, na edição de janeiro de 1867 da Revista Espírita, sob o título “Os Romances Espíritas”, Allan Kardec comentaria algumas obras literárias de Mme. George Sand, nas quais, segundo ele, os enredos e os pensamentos eram inteiramente espíritas.
Allan Kardec e Madame Sand novamente se encontraram, somente em 18 de abril de 1957, cem anos decorridos sobre aquele encontro nas ruas de Paris e, desta vez, despojados da veste corporal. Ela foi um dos Espíritos de elite que compareceu à grande solenidade espiritual, em homenagem a Allan Kardec, levada a efeito na Vida Maior, por ocasião do primeiro centenário de “O Livro dos Espíritos.” 
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Nota:
(*) Aclamada romancista e memorialista francesa, considerada uma das precursoras do feminismo.
(**) Relato baseado em conversa com o médium Chico Xavier, publicado no livro "Mandato de amor", pela União Espírita Mineira.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Chico Xavier e o sentido da missão, da doação e da aceitação

Em 2 de abril de 1910 renascia, no Brasil, Francisco Cândido Xavier. Vinha com uma tarefa: auxiliar na divulgação do Espiritismo, tendo por base o livro espírita. Sua missão, doação e aceitação, fizeram dele um ser único.
O sentido da missão - Do início ao fim de sua trajetória, possuía a certeza de que tinha uma missão a cumprir. Sua fé nessa missão era tanta que ele abriu mão de tudo para se dedicar a divulgar a Doutrina Espírita e difundir a prática da caridade no Brasil. O mais difícil foi abrir mão da própria privacidade, mas ele foi em frente, cada vez mais exposto, atacado e criticado a cada livro. Tinha uma meta a cumprir. Um cronograma rígido determinado a ele pelo Guia Emmanuel. Trinta livros para começar. Cinqüenta, cem livros; livros para sempre, até o fim. Emmanuel era quem anunciava as metas de cada etapa; cabia a ele cumprir a programação, traçada em outros planos invisíveis. De olhos fechados, em transes testemunhados por multidões, ele passava para o papel, em velocidade vertiginosa, crônicas, romances, cartas, todos assinados por mortos ilustres ou desconhecidos. Escrita automática? Plágio? Auto-sugestão? Intercâmbio mediúnico? Ele ia em frente, imune às dúvidas, movido por uma fé inabalável.
O sentido da doação – Exercitado ao longo de sua vida, doava-se aos outros sem esperar nada em troca - a receita evangélica. Ele foi além. Doava seu tempo, sua energia, sua paciência todos os dias e, muitas vezes, recebia em troca desaforos, ataques, insultos. Sofreu três atentados (a faca, revólver, veneno), teve o rosto atingido por tapas e cuspe, e foi em frente. Quando ia receber títulos de cidadania em solenidades, era acusado de vaidoso. Quando dava entrevistas para a televisão, era criticado pelo exibicionismo. Quando recusava doações generosas, era censurado pela falta de educação ou gratidão. Quando se definia como “Cisco Xavier”, era condenado pela falsa modéstia. Quando promovia mutirões e campanhas de doação, era taxado de assistencialista. Aos que anunciavam sua queda, abatido pela vaidade ou ambição, ele respondia: - Não vou cair porque nunca me levantei.
O sentido da aceitação – Atormentado pela angina, castigado pela catarata, abalado por sucessivas crises de pneumonia, continuou a trabalhar sem descanso, até o fim, quase sem queixas. De vez em quando, já no final da vida, ele se permitia desabafos discretos. Exercitou, ao máximo, além dos próprios limites, o sentido da aceitação. Ele não só aceitava as dores, doenças e obstáculos da vida, como agradecia por eles. O sofrimento era uma “benção”, o caminho mais curto para resgatar dívidas passadas, aprender, evoluir. Os amigos de carne e osso estranhavam a omissão dos “amigos espirituais” de Chico. Onde estava o Espírito do Dr. Bezerra de Menezes, o “médico dos pobres”, tão atuante nos Centros do país? Por que ele não aliviava as dores de seu maior aliado no Brasil? Chico batia na mesma tecla: não podia aceitar privilégios, mas nem todo mundo aceitava ou acreditava nessa explicação.


(Extraído do livro "As lições de Chico Xavier"  -  autor: Marcel Souto Maior)