sexta-feira, 13 de maio de 2011

Até na dor somos egoístas!

Ruínas em Cafarnaum - "A cidade de Jesus"
Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas narram uma passagem na qual Jesus cura um paralítico de forma diferenciada. O fato ocorreu na cidade de Cafarnaum, localizada na Galiléia, ao norte de Israel, às margens do grande Lago de Genesaré (ou Mar da Galiléia, como é conhecido).
Cafarnaum era um vilarejo muito pobre, mas bem organizado. Passou a ser chamada de "a cidade de Jesus" pois foi nessa localidade que ele passou a viver, depois de ter saído de Nazaré, onde vivia sua família. Mas, é o evangelho de Marcos (Capítulo 2, versículos 1 a 12) que traz uma narrativa bastante pitoresca na forma pela qual esse paralítico conseguiu se aproximar de Jesus. Vamos reproduzir esse trecho, mantendo fidelidade à narrativa:
"Alguns dias depois, Jesus entrou novamente em Cafarnaum, e souberam que Ele estava em casa. Reuniu-se uma tal multidão, que não podiam encontrar lugar nem mesmo junto à porta. E Ele os instruía. Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro homens. Como não pudessem apresentar-lho por causa da multidão, descobriram o teto por cima do lugar onde Jesus se achava e por uma abertura desceram o leito em que jazia o paralítico. Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: 'Filho, perdoados te são os pecados'. Ora, estavam ali sentados alguns escribas, que diziam uns aos outros: 'Como pode este homem falar assim? Ele blasfema. Quem pode perdoar pecados senão Deus?'. Mas Jesus, penetrando logo com seu espírito nos seus íntimos pensamentos, disse-lhes: 'Por que pensais isto nos vossos corações? Que é mais fácil - dizer ao paralítico: Os pecados te são perdoados, - ou dizer:  Levanta-te, toma o teu leito e anda? Ora, para que conheçais o poder concedido ao Filho do homem sobre a terra, (disse ao paralítico): 'Eu te ordeno, levanta-te, toma o teu leito e vai para casa.' No mesmo instante, ele se levantou e tomando o leito, foi-se embora à vista de todos. A multidão inteira encheu-se de profunda admiração e puseram-se a louvar a Deus, dizendo: nunca vimos coisa semelhante."
Disponivel em www.blog.cancaonova.com
Nos tempos de Jesus, as casas tinham um padrão muito diferente do que encontramos nos dias de hoje. Os tetos  eram feitos com travessas de madeira (ou cipó) para sustentar a laje feita de terra empastada com palha. Esse tipo de teto assegurava um ambiente fresco e agradável.
Durante o dia, Jesus peregrinava por aquela região, subindo e descendo morros, debaixo de sol, poeira, chuva... À noite, costumava ficar na casa de Simão Pedro e, eram nesses momentos de intimidade familiar, que Ele ensinava, dialogava, esclarecia. Com a sua fama se espalhando pelas aldeias, esses encontros começaram a atrair muitas pessoas, que se aglomeravam ao redor da casa de Pedro, na tentativa de ver e ouvir Jesus e, talvez, obter alguma graça especial... Alguns ali se encontravam movidos apenas pela curiosidade...
Reuniu-se uma tal multidão, que não podiam encontrar lugar nem mesmo junto à porta.
Naquela noite, ao chegar na casa de Simão Pedro, o paralítico, carregado por quatro amigos, percebeu que não seria fácil entrar. Uma multidão impedia a passagem de qualquer pessoa e ninguém mostrou disposição para ceder seu lugar. Assim somos nós quando nos aproximamos da mensagem consoladora de Jesus e das bençãos que ela nos proporciona. Acreditamos que nossa dor é maior que a dos outros, que nosso problema tem mais urgência que os demais, não cedemos aos outros a mesma oportunidade; queremos Jesus somente para nós mesmos,  não dividimos com outros as bençãos recebidas... Até na dor, nosso comportamento é egoísta...
Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro homens. Como não pudessem apresentar-lho por causa da multidão, descobriram o teto por cima do lugar onde Jesus se achava e por uma abertura desceram o leito em que jazia o paralítico.
Em muitas momentos de nossa vida, ficamos paralisados pela dor, seja ela física e/ou moral. Por mais que queiramos, não conseguimos sair, sozinhos, de tal postura. Nesses momentos precisamos recorrer àqueles que são mais fortes que nós, moral e espiritualmente. Assim como o paralítico era carregado por pessoas que possivelmente eram seus amigos, também nós, desde que queiramos, também teremos aqueles que estarão dispostos a nos auxiliar, a nos aproximar das bençãos divinas. Se não contarmos com amigos no plano físico, temos nossos amigos espirituais, especialmente nosso Espírito Protetor.
Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: 'Filho, perdoados te são os pecados'. Ora, estavam ali sentados alguns escribas, que diziam uns aos outros: 'Como pode este homem falar assim? Ele blasfema. Quem pode perdoar pecados senão Deus?'
Quando o paralítico se aproximou de Jesus, certamente esperava, assim como todos os presentes, que fosse curado da paralisia. Ninguém esperava por aquelas palavras que Jesus lhe dirigiu. A palavra pecado tem uma conotação muito negativa. Ela é pouco empregada no meio espírita. No Espiritismo aprendemos que Deus é amor, o qual equilibra e harmoniza a vida. Cada vez que, por atos, palavras e pensamentos rompemos essa harmonia, necessitaremos de um processo de reajuste, o qual se dá através da dor e do sofrimento. Jesus conhecia a trajetória espiritual daquele homem e sabia que ele já havia sofrido o bastante para ressarcir seus erros, tivessem eles acontecido naquela mesma vida, ou em existências anteriores. Esse motivo, aliado à fé que o doente apresentava, é que possibilitou sua cura.
Mas Jesus, penetrando logo com seu espírito nos seus íntimos pensamentos, disse-lhes: 'Por que pensais isto nos vossos corações? Que é mais fácil - dizer ao paralítico: Os pecados te são perdoados, - ou dizer:  Levanta-te, toma o teu leito e anda?
Os escribas e fariseus não viam com bons olhos os ensinamentos de Jesus. Conhecendo as intenções maldosas que os moviam, Jesus responde à pergunta que fizeram com duas proposições, sendo que nenhuma delas é mais fácil que a outra. Somente um ser com a autoridade moral e espiritual como Jesus é que poderia fazer as duas coisas: liberar o paralítico de seu processo de reajuste e curá-lo.
Ora, para que conheçais o poder concedido ao Filho do homem sobre a terra, (disse ao paralítico): 'Eu te ordeno, levanta-te, toma o teu leito e vai para casa.' No mesmo instante, ele se levantou e tomando o leito, foi-se embora à vista de todos.
Após receber a cura, Jesus não ordenou ao paralítico que fosse descansar, ou passear, ou se distrair; disse que voltasse para os seus, que retomasse as tarefas que lhe cabiam, que abraçasse as responsabilidades que o aguardavam entre os seus familiares.
Certamente, ao longo de nossa jornada evolutiva, encontraremos muitos obstáculos e dificuldades para nosso encontro com Jesus. No entanto, poderemos contar sempre com o apoio de amigos espirituais, os quais não faltarão se realmente estivermos dispostos a vencer todas essas dificuldades. Essa passagem também nos ensina que, após conquistarmos a benção de nosso equilíbrio físico e espiritual, novas tarefas certamente estarão aguardando por nós!

(Tema abordado na reunião pública do dia 9 de maio de 2011)

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