É muito comum as pessoas atribuírem seus insucessos à ação oculta de alguém que lhes deseja o mal. Costumam dizer que são vítimas de “mau olhado”, de “trabalhos feitos”, etc, etc...
O mais curioso é que até mesmo aquelas pessoas que não acreditam na existência dos Espíritos, que não aceitam a interferência deles em nossas ações, sobretudo em nossos pensamentos, julgam que podem ser vitimadas por essas influências negativas, vindas de alguém que lhes deseja prejudicar de alguma forma. Outras, então, têm o hábito de procurarem pessoas que fazem esses tipos de “acordos”, com o objetivo de se livrarem dessas influências ou de se protegerem contra elas.
É preciso ressaltar que a mediunidade e o intercâmbio com os Espíritos não são propriedades do Espiritismo; são fenômenos naturais a que todos estão sujeitos. Existem muitas seitas que utilizam, em seus rituais, a comunicação com os Espíritos, infelizmente, nem sempre com propósitos dignos. Incorporaram-se a essas crenças, os rituais afro-indígenas, tão facilmente assimilados pelas mentes sugestionáveis.
Sobre esses fatos, na questão 549 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec faz a seguinte pergunta aos Espíritos Superiores:
549 – Há alguma coisa de verdadeiro nos pactos com os maus Espíritos?
Resposta: – “Não, não há pactos, mas uma natureza má simpatiza com Espíritos maus. Por exemplo: queres atormentar o teu vizinho e não sabes como fazê-lo; chamas então os Espíritos inferiores que, como tu, só querem o mal; e para te ajudar querem que também os sirvas nos seus maus desígnios. Mas disto não se segue que o teu vizinho não possa se livrar deles, por uma conjuração contrária ou pela sua própria vontade. Aquele que deseja cometer uma ação má, pelo simples fato de o querer chama em seu auxílio os maus Espíritos, ficando obrigado a serví-los como eles o auxiliam, pois eles também necessitam dele para o mal que desejam fazer. É somente nisso que consiste o pacto. A dependência em que o homem se encontra, algumas vezes, dos Espíritos inferiores, provém da sua entrega aos maus pensamentos que eles lhe sugerem, e não de qualquer espécie de estipulações feitas entre eles. O pacto, no sentido comum atribuído a essa palavra, é uma alegoria que figura uma natureza má simpatizando com Espíritos malfazejos.”
Notemos que, nessa pergunta, Kardec desejava saber se era possível algum tipo de associação entre uma pessoa e um Espírito, ambos devotados ao mal, unidos com o mesmo propósito de prejudicar alguém. E a resposta é muito clara: é possível, sim. Mas essa associação acontece pela comunhão de pensamentos voltados para a prática do mal. Não existe um acordo formal, propriamente dito, mas uma união de intenções.
Os Benfeitores Espirituais igualmente alertam para uma conseqüência grave dessas associações: os Espíritos inferiores também se utilizarão da pessoa a quem se associaram, espiritualmente falando, para poderem realizar seus objetivos de natureza inferior, sempre ligados a extensão do mal, contra alguém, contra uma coletividade ou, até mesmo, contra uma idéia. Geralmente, Espíritos dessa natureza fazem parte de grandes organizações no plano espiritual inferior, estruturadas para a prática do mal.
O livro “Libertação”, de autoria do Espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, aborda essa questão. É uma leitura necessária, principalmente para aqueles que atuam em tarefas de desobsessão, para se conhecer de que maneira essas organizações atuam no plano físico, influenciando pessoas e/ou instituições e, igualmente, o quanto é longo e delicado o processo de recuperação desses Espíritos.
Em emocionante narrativa, André Luiz destaca o trabalho dos Espíritos Superiores no esforço de conversão ao bem do Espírito Gregório, que culmina com o inesquecível reencontro com sua mãe, Espírito de escol, rendendo-se ao chamamento irresistível do Amor. Propicia também o conhecimento dos processos da ação dos Espíritos infelizes, procurando envolver os homens em seus procedimentos. O autor espiritual informa sobre a intercessão realizada pelos Espíritos Superiores em benefício dos homens, dando provas da misericórdia divina que concede a todos abençoada oportunidade de libertação pelo estudo, pelo trabalho, e pelo perseverante serviço na prática do bem.
Já na questão 551, Kardec faz outra pergunta sobre o mesmo assunto, porém com um enfoque diferente:
551 – “Um homem mau, com o auxílio de um mau Espírito que lhe for devotado, pode fazer o mal ao seu próximo?”
Resposta – “Não, Deus não o permitiria.”
Essa resposta parece contradizer o que foi respondido na questão 549. No entanto, se na primeira o objetivo era saber se isso é possível, na questão 551 deseja-se saber se esse fato é permitido. E a conclusão: é possível, mas não é permitido. Perguntemos a um pai se ele permite que seus filhos se prejudiquem mutuamente. Ele responderá que não; no entanto, apesar da proibição, os filhos se desentendem. O mesmo acontece em relação a Deus, nosso Pai.
Devemos recorrer aos ensinamentos espíritas para melhor compreendermos como tratar essa questão, mesmo porque, normalmente encontramos muitas crendices e superstições em torno desse tema, sobretudo na maneira de nos guardarmos de tais influências.
Encontramos as orientações para essa questão em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no Capítulo 12, item 6, que aborda o tema: “Os inimigos desencarnados”:
“Antigamente, ofereciam-se sacrifícios sangrentos para apaziguar os deuses infernais, que nada mais eram do que os Espíritos maus. Aos deuses infernais sucederam os demônios, que são a mesma coisa. O Espiritismo vem provar que esses demônios não são mais do que as almas dos homens perversos, que ainda não se despojaram dos seus instintos materiais; que não se pode apaziguá-los senão pelo sacrifício dos maus sentimentos; ou seja, pela caridade; e que a caridade não tem apenas o efeito de impedi-los de fazer o mal, mas também de induzi-los ao caminho do bem e contribuir para a sua salvação.”
(Tema apresentado na reunião pública do dia 19 de setembro de 2011)
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