Por que Jesus falava, muitas vezes, por parábolas? Ou melhor: por que foi necessário que muitos ensinamentos de Jesus fossem transmitidos através de parábolas?
Essa também foi a pergunta que os seus discípulos Lhe fizeram, logo após Ele ter contado a parábola do semeador (Mateus, 13:10-15).
Sendo assim, na atualidade, a parábola é uma estória na qual se empregam imagens comuns, colocadas “lado-a-lado” com o ensinamento moral que se quer transmitir. É um recurso pedagógico do qual Jesus se utilizava com frequência.
No livro "Parábolas de Jesus texto e contexto", de Haroldo Dutra Dias, o autor afirma que no hebraico haviam dois termos distintos:
É possível perceber que “parábola” e
“mashal” não significam a mesma coisa. Quando os antigos escritos hebraicos
foram traduzidos para o grego, a palavra “mashal”, com significados muito mais
abrangentes, foi traduzida como “parábola”. Como conseqüência, alguns trechos
do Evangelho perderam seu sentido original, dificultando assim sua compreensão.
Temos igualmente vários exemplos em
nossa época: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, “onde há
fumaça, tem fogo”, “é bom ser importante, mas é mais importante ser bom”,
“comer pelas bordas”, “enquanto o cavalo é manso, ninguém anda a pé”, etc. Alguns só tem sentido em nossa língua; se fossem traduzidos para outro idioma,
perderiam o sentido original, a rima deixaria de existir e as pessoas
estrangeiras não as compreenderiam. Foi o que aconteceu na tradução do hebraico
para o grego. O pensamento hebraico foi mantido mas a originalidade se perdeu.
Ao transmitir seus ensinamentos para
o povo, Jesus utilizou a mesma tradição dos antigos hebreus: a transmissão oral
dos ensinamentos. Essa era a forma utilizada já que a escrita e a leitura eram
dominados por pouquíssimas pessoas. Além disso, a escrita era muito cara já que
não existia papel como hoje, apenas o pergaminho e o papirus. Os livros
sagrados ficavam somente nas sinagogas e no templo. Para memorizar os
ensinamentos, os hebreus empregavam muitos trocadilhos, provérbios, rimas,
comparações, poesias, cantos.
Jesus assim também o fez,
principalmente quando se dirigia aos habitantes da região da Galiléia. Eram
pessoas simples, preocupadas com as atividades diárias da pesca e da produção
de alimentos; cumpriam suas obrigações religiosas mas não se perdiam seu tempo
discutindo questões filosóficas em torno da religião.
Por isso Jesus empregava, com
abundância, imagens e figuras relacionadas com a vida no campo, a atividade da
pesca, as lições da natureza, pois faziam parte do cotidiano daquelas pessoas e
elas conheciam muito bem. Dessa forma, seria mais fácil para elas memorizarem
os ensinamentos de Jesus, mesmo que não conseguissem alcançar a profundidade
moral de seus ensinamentos. Mesmo com a simplicidade de entendimento daquelas
pessoas, com essa técnica de aprendizado empregada por Jesus, elas conseguiriam
transmitir a outros, as lições recebidas. Quanta sabedoria Jesus possuía! Era,
de fato, um mestre notável!
Utilizando essa prática, Jesus
tocava o coração dos mais simples e confundia o suposto saber dos mais
orgulhosos “porque eles vendo, não vêem,
e ouvindo não ouvem, nem entendem”. Já aos discípulos, Jesus abordava as
leis de Deus de forma mais aprofundada “porque
a vós outros vos é dado saber os mistérios do Reino de Deus, mas a eles não
lhes é concedido”, ou seja, os discípulos já possuíam capacidade maior de
entendimento, por isso, receberiam maiores ensinamentos: “ao que tem, se lhe dará, e terá em abundância”.
Se, nos tempos de Jesus, a
humanidade ainda não estava preparada para um entendimento mais aprofundado
sobre as leis de Deus, séculos mais tarde, esses mesmos ensinamentos foram
revividos e relembrados de forma mais amadurecida com o Espiritismo. A
humanidade já se encontrava apta a receber ensinamentos mais aprofundados. É
por esse motivo que a Doutrina Espírita, na atualidade, traz de volta os
ensinamentos de Jesus de forma mais ampla, permitindo a aqueles que tem “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir”, compreender melhor tais ensinamentos.É o que
analisa Kardec, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. 24, item 7:
“O Espiritismo vem atualmente lançar a sua luz sobre uma porção de pontos obscuros, mas não o faz inconsideravelmente. Os Espíritos procedem, nas suas instruções, com admirável prudência. É sucessiva e gradualmente que eles tem abordado as diversas partes já conhecidas da doutrina, e é assim que as demais partes serão reveladas no futuro, à medida que chegue o momento de fazê-las sair da obscuridade.”
“O Espiritismo vem atualmente lançar a sua luz sobre uma porção de pontos obscuros, mas não o faz inconsideravelmente. Os Espíritos procedem, nas suas instruções, com admirável prudência. É sucessiva e gradualmente que eles tem abordado as diversas partes já conhecidas da doutrina, e é assim que as demais partes serão reveladas no futuro, à medida que chegue o momento de fazê-las sair da obscuridade.”
(Tema apresentado na reunião pública do dia 10 de setembro de 2012)
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