Qual o tipo de assunto que deve ser conversado nos
instantes que antecedem as reuniões espíritas? Se a resposta pode ser demais
abrangente, façamos a mesma pergunta na negativa: qual o tipo de conversa que
não se deve abordar nos grupos espíritas?
Enganam-se aqueles que pensam que as orientações de
Allan Kardec se aplicam somente para os que se declaram espíritas e/ou os que
se afirmam médiuns.
Sem dúvida que muitas de suas orientações são
dirigidas especificamente a uns e outros, mas há igualmente, inúmeros
ensinamentos que se aplicam, sobretudo, aos freqüentadores de grupos espíritas,
sejam estes dedicados trabalhadores no campo da mediunidade ou apenas
simpatizantes.
Há uma situação que Kardec apresentou como muito
perigosa: é quando o grupo se entrega às discussões acaloradas sobre temas que
não são pertinentes à Doutrina. Ele chamou esses temas de “questões irritantes” e
deixa bem claro que a manutenção de um ambiente harmonizado é de responsabilidade
de todos os participantes das reuniões espíritas. Essas orientações foram
direcionadas aos espíritas de Lyon (França), no ano de 1862, publicadas por
Kardec em sua Revista Espírita, em fevereiro do mesmo ano. Disse ele sobre essa prática que, infelizmente, é mais comum do que pensa, nos meios espíritas:
“Devo ainda assinalar-vos outra tática dos nossos adversários: a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da Doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua alçada e que, a justo título, poderiam despertar susceptibilidades e desconfianças. Também não vos deixeis cair neste laço. Em vossas reuniões afastai cuidadosamente tudo quanto se refere à política e às questões irritantes.”
Muitos participantes de grupos espíritas encontram-se
somente nos dias das reuniões e acabam aproveitando os instantes anteriores ao
início das atividades para colocar “a conversa em dia”. Formam-se, assim, as
inevitáveis “panelinhas”, cada qual tratando do que interessa aos seus
componentes.
O problema não é o reencontro em si, nem as demonstrações
carinhosas de amizade que se trocam, mas sim o que se conversa nesses momentos.
Kardec citou, como exemplo, a política, um tema inconveniente para se discutir
num grupo espírita. E poderemos acrescentar uma lista de outros temas considerados igualmente inconvenientes: desentendimentos no trânsito, custo de
vida, dores físicas variadas, descasos na área da saúde, da segurança, da
educação, direitos não respeitados, criminalidade, violência, críticas à obras
públicas, corrupção, etc...
Além de causar um grande desconforto, pode gerar um
clima de desconfiança entre todos, já que não se sabe, ao fundo, a opinião de
cada um sobre esses assuntos. Sem contar o declínio das vibrações de natureza
espiritual, comprometendo o andamento dos trabalhos mediúnicos que virão a
seguir.
Certamente que esses assuntos são importantes para o
bem estar da sociedade como um todo mas sua abordagem é perigosa quando feita
num ambiente tão diferenciado, espiritualmente falando, como é o de uma casa
espírita.
Essas orientações não se aplicam
apenas aos freqüentadores de casas espíritas. Em qualquer ambiente onde nos
encontremos, seja no lar, no trabalho, no meio social, discussões em torno de
questões polêmicas desequilibram sobremaneira o ambiente, podendo gerar até
inimizades.
O Benfeitor Espiritual Emmanuel
afirma: basta que dediquemos a um acontecimento infeliz mais tempo que o mesmo
mereça, para que entremos em sintonia com as mesmas vibrações desequilibradas
que o envolvem. Sendo assim, a que risco nos expomos quando nos deixamos
empolgar por comentários deprimentes em torno de questões inquietantes e
perturbadoras.
O próprio Kardec foi duramente
criticado por freqüentadores da Sociedade Espírita de Paris, que se sentiam
incomodados pelo excesso de zelo com que ele conduzia as reuniões. Sabendo, por
experiência própria, desses entraves no meio espírita, deixou uma recomendação
importantíssima aos espíritas de Lyon, que continua válida atualmente:
“Procurai no Espiritismo aquilo que
vos pode melhorar. Eis o essencial.”
Tais considerações não significam que
não se deva manter um diálogo amigo entre os freqüentadores dos grupos
espíritas. O problema é que o compromisso do grupo espírita não se restringe
aos participantes encarnados mas, igualmente, com os desencarnados e, sabendo
que os perturbadores são sempre em maior número, maior ainda se torna a
necessidade de grande vigilância no emprego da palavra falada.
Com esse propósito é que o Apóstolo
Paulo advertiu, em sua carta a Tito (Cap. 2, vers. 1) : “Tu, porém, fala o que
convém à sã doutrina”.
Aproveitemos os momentos em que
estamos entre amigos nos grupos espíritas para abordarmos aqueles temas que nos
engrandeçam a alma, que nos elevem a confiança e a esperança, que nos auxiliem
a apreciar a bondade divina e a beleza da criação!
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Caso tenha interesse em ver o texto completo sobre as orientações de Kardec aos espíritas de Lyon, clique aqui.
(Tema abordado na reunião pública do dia 16 de janeiro de 2012)
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