O sentido da missão - Do início ao fim de sua trajetória, possuía a certeza de
que tinha uma missão a cumprir. Sua fé nessa missão era tanta que ele abriu mão
de tudo para se dedicar a divulgar a Doutrina Espírita e difundir a prática da
caridade no Brasil. O mais difícil foi abrir mão da própria privacidade, mas ele
foi em frente, cada vez mais exposto, atacado e criticado a cada livro. Tinha
uma meta a cumprir. Um cronograma rígido determinado a ele pelo Guia Emmanuel.
Trinta livros para começar. Cinqüenta, cem livros; livros para sempre, até o
fim. Emmanuel era quem anunciava as metas de cada etapa; cabia a ele cumprir a
programação, traçada em outros planos invisíveis. De olhos fechados, em transes
testemunhados por multidões, ele passava para o papel, em velocidade
vertiginosa, crônicas, romances, cartas, todos assinados por mortos ilustres ou
desconhecidos. Escrita automática? Plágio? Auto-sugestão? Intercâmbio
mediúnico? Ele ia em frente, imune às dúvidas, movido por uma fé inabalável.
O sentido da doação – Exercitado ao longo de sua vida, doava-se aos outros sem
esperar nada em troca - a receita evangélica. Ele foi além. Doava seu tempo,
sua energia, sua paciência todos os dias e, muitas vezes, recebia em troca
desaforos, ataques, insultos. Sofreu três atentados (a faca, revólver, veneno),
teve o rosto atingido por tapas e cuspe, e foi em frente. Quando ia receber
títulos de cidadania em solenidades, era acusado de vaidoso. Quando dava
entrevistas para a televisão, era criticado pelo exibicionismo. Quando recusava
doações generosas, era censurado pela falta de educação ou gratidão. Quando se
definia como “Cisco Xavier”, era condenado pela falsa modéstia. Quando promovia
mutirões e campanhas de doação, era taxado de assistencialista. Aos que
anunciavam sua queda, abatido pela vaidade ou ambição, ele respondia: - Não vou cair porque nunca me levantei.
O sentido da aceitação – Atormentado pela angina,
castigado pela catarata, abalado por sucessivas crises de pneumonia, continuou
a trabalhar sem descanso, até o fim, quase sem queixas. De vez em quando, já no
final da vida, ele se permitia desabafos discretos. Exercitou, ao máximo, além
dos próprios limites, o sentido da aceitação. Ele não só aceitava as dores,
doenças e obstáculos da vida, como agradecia por eles. O sofrimento era uma
“benção”, o caminho mais curto para resgatar dívidas passadas, aprender,
evoluir. Os amigos de carne e osso estranhavam a omissão dos “amigos
espirituais” de Chico. Onde estava o Espírito do Dr. Bezerra de Menezes, o
“médico dos pobres”, tão atuante nos Centros do país? Por que ele não aliviava
as dores de seu maior aliado no Brasil? Chico batia na mesma tecla: não podia
aceitar privilégios, mas nem todo mundo aceitava ou acreditava nessa
explicação.
(Extraído do livro "As lições de Chico Xavier" - autor: Marcel Souto Maior)
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