Ao longo de sua vida, Chico Xavier sempre se vestiu com simplicidade mesmo porque, com uma família numerosa e poucos recursos financeiros, a prioridade era a alimentação e não a vestimenta. Houve uma época, quando ainda era jovem e morava em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, que ele possuía apenas dois ternos, um para uso e outro de reserva.
Certa vez, um médium da cidade de São Paulo, fazendo uma visita a ele, vendo-o tão mal vestido, exclamou:
- Pensava em encontrá-lo como o maior médium de todos os tempos, vem vestido, bem alojado, vivendo uma vida folgada e o encontro assim, maltrapilho... Não está certo. Precisamos fundar a Sociedade dos Médiuns.
Chico apenas sorriu e nada respondeu...
Lembrando-se deste caso, ponderava:
- Vivo assim e sempre hei de viver, enquanto estiver aqui, vivendo a minha prova. E ainda assim me criticam, achando-me rico, com dinheiro nos bancos... Imagine se vivesse diferentemente, o que não diriam...
Reportando-se ao passado, ele contou um outro caso que lhe aconteceu...
Certa vez, quando enfrentava, materialmente, momentos críticos, um ladrão entrou em seu quarto, roubando-lhe o único terno que possuía de reserva. Ficou aflito, mas não desesperado. Seus irmãos, sabendo do acontecido, combinaram uma armadilha para pegar o ladrão, certos de que ele voltaria... Fizeram uma trouxa de roupas e a colocaram na janela de seu quarto, bem à vista. Chico ofereceu-se para ficar de guarda, sabendo do que os irmãos seriam capazes de fazer se pegassem o infeliz ladrão.
Tudo combinado, ele ficou de vigia, por algumas noites. Quando menos esperava, viu alguém entrar no seu quintal, dirigir-se à janela, pegar a trouxa e levá-la. Deixou passar alguns minutos e deu o alarme. Seus irmãos levantaram-se apressadamente, procuraram e não encontraram o ladrão. Um irmão lhe perguntou:
- “Mas Chico, como deixou o ladrão fugir?”
Ele respondeu:
- “Estava cansado e dormi. Quando acordei a trouxa já não estava na janela.”
Seus irmãos ficaram muito bravos, dizendo que não teriam pena dele, que ele andasse com um só terno até que, de sujo, se apodrecesse no seu corpo... E não se falou mais no assunto...
Certa tarde, Chico voltava de charrete da Fazenda Modelo, onde trabalhava, quando alguém o faz parar e lhe implora:
- “Irmão Chico, pare, desejo lhe pedir perdão...”
Chico pergunta:
- “Perdão de que, meu irmão?”
E o homem se explica:
- “Fui eu quem lhe roubou as roupas... E, quando fui verificar o que tinha na trouxa, encontrei seu bilhete, que me tocou o coração, pois que me dizia ‘vá com Deus!’. E até hoje sinto que estou com Deus e Deus está comigo e não posso roubar mais.”
Chico lhe deu um comovido abraço, perdoou-lhe a falta e, satisfeito por vê-lo reformado, tornou a dizer-lhe: - ’Vá com Deus, meu irmão!”
--
Em 30 de junho de 2002, com 92 anos de idade, tendo dedicado 75 anos de sua vida à mediunidade, Chico Xavier retornava à Pátria Espiritual. Merecendo nosso carinho, admiração e eterna gratidão, dizemos igualmente: "Vá com Deus, meu irmão!"
(Extraído do livro "Lindos casos de Chico Xavier" - autor: Ramiro Gama)