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Agradecemos a todos os que nos dão a alegria de sua visita, ajudando-nos na divulgação da esclarecedora e consoladora mensagem espírita. Rogamos a Deus que a todos ilumine e proteja, com nossos votos de paz e saúde, amor e harmonia, onde quer que estejam...

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Como consideramos Jesus

Em entrevista concedida por Chico Xavier ao professor Herculano Pires (escritor, jornalista, filósofo), no início de 1972, ele falou sobre a maneira pela qual considera Jesus. O texto foi publicado no livro "Na era do espírito" , por Herculano Pires.
É importante frisar que as palavras de Chico Xavier apresentam, de forma sucinta, os ensinamentos de Benfeitores Espirituais, registrados em várias obras por ele psicografadas.
“Do que posso pessoalmente compreender, dos ensinamentos dos Espíritos amigos, consideramos Jesus Cristo como sendo Espírito de evolução suprema, em confronto com a evolução dos chamados terrícolas que somos nós outros. Não o senhor do sistema solar, com todo o respeito que temos a personalidade sublime de Jesus, mas consideramo-lo como supremo orientador da evolução moral do planeta.
E os Espíritos como Buda, como Zoroastro, como aqueles outros grandes instrutores da Índia e da Grécia, por exemplo, que eram considerados orientadores ou chefes de grandes movimentos mitológicos, serão ministros do Cristo, pois não temos ainda outra definição para classificá-los, dentro dos nossos parcos conhecimentos a respeito da nossa História no lado espiritual da vida.
Vemos que Jesus convidou doze discípulos. Eram discípulos humanos tanto quanto nós, para que não fossemos instruídos por anjos, pois senão nada entenderíamos da Doutrina do Cristo. Teríamos de entender a doutrina com os discípulos também humanos, frágeis portadores de deficiências como as nossas, embora respeitemos, nos doze, personalidades eminentemente elevadas em confronto com a nossa posição atual na Terra. Mas, do plano espiritual, Ministros do Senhor cooperaram, cooperam e cooperarão sempre para que a nossa personalidade se consolide cada vez mais no plano físico.
Nós estamos, vamos dizer, no limiar da era do espírito, mas estamos ainda sacudidos por grandes calamidades psicológicas, como a Terra no seu início, como habitação sólida, esteve movimentada por grandes convulsões. Psicologicamente estamos sacudidos por esses movimentos que dificultam a nossa compreensão. Mas os Ministros do Senhor estão cooperando para que alcancemos a segurança, com a estabilidade precisa, para que o planeta seja realmente promovido a mundo de paz e felicidade para todos os seus habitantes.
O Criador, a nosso ver, conforme ensinam Espíritos amigos que nos visitam, é o Criador. Não podemos ainda ter outra definição de Deus mais alta do que aquela de Jesus Cristo quando o chamou de Pai Nosso. Além disso, a nossa mente vagueia como se estivéssemos em águas demasiadamente pro- fundas, sem recursos para tatear a terra sólida. Pai Nosso, Deus Criador do Universo. Então, a força que Deus representa ter-se-ia manifestado em Jesus Cristo para que Ele, como um grande engenheiro, de mente quase divina, pudesse realizar prodígios sob a inspiração de Deus na plasmagem, na estruturação do mundo maravilhoso que habitamos. Mas não consideramos Jesus como Criador, conquanto o respeito que lhe devemos.”
(Tema abordado na reunião pública do dia 10 de dezembro de 2012)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

É preciso despertar!



“E a outro disse Jesus: Segue-me. E ele lhe disse: Senhor, permite-me que vá eu primeiro enterrar meu pai. E Jesus lhe respondeu: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, e tu vai, e anuncia o Reino de Deus.” (Lucas, 9:59-60)
Essa passagem se deu logo após o Sermão da Montanha, portanto, a pessoa a quem Jesus dirige o convite possivelmente tenha ouvido as palavras de Jesus.
Quando Ele faz o convite ‘Segue-me’, não estava dizendo a essa pessoa que abandonasse os seus afazeres, os seus compromissos de trabalho e com a família para segui-Lo, fisicamente falando. Era um convite para que seguisse Seus ensinamentos, onde quer que essa pessoa desenvolvesse suas atividades. É preciso destacar que, se essa pessoa ouviu os ensinamentos de Jesus, entendeu o convite que o Mestre lhe fazia.
Respondendo a Jesus que primeiro deveria enterrar seu pai, isso não quer dizer que seu pai tivesse acabado de morrer. Se isso realmente tivesse acabado de acontecer, é claro que Jesus não o reprovaria por tratar do sepultamento do próprio pai. Na forma e no momento em que foi utilizada, essa frase é uma expressão significando que preocupações de ordem material não permitiram a essa pessoa seguir os ensinamentos de Jesus.
É grande a relação de desculpas daqueles que não estão dispostos a modificar seus hábitos para aplicar os ensinamentos de Jesus em suas vidas. Estão sempre jogando para o futuro o compromisso de vivenciar as lições trazidas por Jesus.
A frase mais difícil de ser compreendida é a resposta de Jesus: ‘Deixa que os mortos enterrem seus mortos’. ‘Morto’ é alguém que viveu, ou seja, era uma pessoa, uma individualidade que perdeu a consciência da vida ao seu redor, que parece estar ‘dormindo’. Como é possível então que alguém que já tenha morrido enterre aquele que acabou de morrer? Se tomarmos essa palavra ao pé da letra, ela fica totalmente sem sentido. Portanto, não é esse o seu significado original.
A palavra ‘morto’, nessa passagem, representa aqueles que não despertaram para as realidades da vida espiritual. Passam a vida centralizando toda a sua atenção e suas preocupações somente em torno da vida material e de si mesmos. Passam a vida toda como que adormecidos, ‘mortos’, para as belezas da vida, em seus aspectos sublimes e espirituais.
Vemos, com isso, a lógica da resposta de Jesus. Aquela pessoa havia acabado de ouvir Seus ensinamentos, no qual Ele falava do Reino de Deus, da felicidade na vida futura, que é a vida espiritual, reservada aos que seguissem Suas lições. Mas, as preocupações, os interesses e as atividades da vida material lhe absorviam totalmente, deixando-o como que morto, adormecido, para a sublime realidade espiritual.
É imenso o número de pessoas que passam a vida toda sem despertar para as realidades do espírito. Considerando que devem ser felizes ‘a qualquer preço’, investem todas as suas forças na satisfação de suas vaidades e ilusões. Tão preocupados vivem que não se lembram da morte e quando ela surge, desequilibram-se diante dessa verdade incontestável.
Jesus fez ainda outro convite a essa pessoa: ‘vai e anuncia o Reino de Deus’. Após ter ouvido as lições do Mestre, no sermão do monte, aquela pessoa já estaria apta a passar adiante os ensinamentos recebidos. Retornando às suas atividades e aos seus entes queridos, encontraria inúmeras oportunidades de passar adiante o que tinha ouvido do próprio Mestre.
Utilizando a expressão ‘deixa que os mortos cuidem de seus mortos’, Jesus lhe dizia, para que não se inquietasse com as necessidades do corpo e da vida material, que são passageiras, mas que dedicasse mais tempo às necessidades do Espírito, que é imortal; que ensinasse aos seus que nossa pátria verdadeira é o mundo espiritual (Reino dos Céus) e que a vida espiritual é a vida normal do Espírito, que seremos felizes nesse Reino se cumprirmos as leis de Deus, que Jesus veio ensinar e exemplificar.
Não é o acaso que nos coloca diante dos ensinamentos de Jesus. E a partir do momento em que eles nos alcançam, surge em nosso íntimo o Seu convite: ‘Segue-me’... Se não conseguirmos colocá-los em prática, auxiliando igualmente na sua divulgação; se passamos a relacionar desculpas evasivas para sua aplicação, é porque ainda nos encontramos ‘mortos’ para a realidade espiritual da vida...
Ensina o benfeitor espiritual Emmanuel pela psicografia de Chico Xavier, no livro “Fonte Viva”, (cap. 143):
“Sai, cada dia, de ti mesmo, e busca sentir a dor do vizinho, a necessidade do próximo, as angústias de teu irmão e ajuda quanto possas.
Não te galvanizes na esfera do próprio ‘eu’.
Desperta e vive com todos, por todos e para todos, porque ninguém respira tão-somente para si.
Em qualquer parte do Universo, somos usufrutuários do esforço e do sacrifício de milhões de existências.
Cedamos algo de nós mesmos, em favor dos outros, pelo muito que os outros fazem por nós.”.

(Tema abordado na reunião pública do dia 12 de novembro de 2012)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

As lições da figueira seca



“No outro dia, ao saírem de Betânia, Jesus teve fome. Avistou de longe uma figueira coberta de folhas, e foi ver se encontrava nela algum fruto. Aproximou-se da árvore, mas, só encontrou folhas, pois não era tempo de figos. E disse à figueira: “Jamais alguém como fruto de ti!”. E os discípulos ouviram esta maldição.” (Marcos, 11:12-14)

Essa passagem aconteceu no dia seguinte à entrada de Jesus em Jerusalém, montado em um burrinho e saudado pelo povo com ramos de palmeiras. Ao final desse dia, Jesus regressou, junto com os discípulos, para as cercanias da cidade, num local denominado Betânia, onde residiam os irmãos Lázaro, Marta e Maria, na casa dos quais Ele costumava se hospedar.
Não se pode acreditar que Jesus amaldiçoasse qualquer ser vivo, pois isso seria uma contradição com aquele que representava o amor em sua expressão mais sublime.
Deve-se entender, portanto, que a figueira foi um símbolo utilizado para representar o povo de Israel, rebelde e orgulhoso aos ensinamentos que Jesus trazia.
Vista de longe, a cidade de Jerusalém impressionava. O templo do Rei Salomão se impunha aos judeus, como expressão máxima da fé judaica. Ali eram tratados todos os negócios judaicos, fossem nas questões civis ou religiosas, o que incluía a venda de animais para os sacrifícios e o câmbio de moedas estrangeiras, pois nesses negócios só se aceitava a moeda do próprio Templo. O Templo havia se tornado, além de um local para a prática da fé, também um local de interesses financeiros de tal porte, que os ricos ali deixavam guardados os seus tesouros, pois era o lugar mais seguro de toda a Israel.
Quando Jesus sai de manhã, a visão da cidade se assemelhava a uma árvore coberta de folhas, causando a impressão de grande agitação para a manutenção da vida religiosa. De fato, qualquer pessoa que se deslocasse a caminho de Jerusalém, veria aquele cenário imponente da Cida”de sagrada e seu templo rico e majestoso. Mas eram apenas aparências.
Mais do que ninguém, Jesus sabia que por trás daqueles muros, os negócios materiais, com toda a gama de interesses mesquinhos que despertam, dominavam o local destinado ao cultivo da fé no Deus único. Por esse motivo, ao descortinar tal paisagem, sabendo que a realidade era outra, Jesus lamentava a postura do povo judeu, principalmente dos fariseus e dos sacerdotes, os quais passavam a impressão de serem pessoas irrepreensíveis e fervorosas.
Por tal motivo, a figueira seca é uma parábola, um símbolo empregado por Jesus para afirmar que, infelizmente, os judeus apenas aparentavam a ideia de um povo fervoroso mas, na verdade, aquela fé não produzia nenhum fruto, nem espiritual, nem moral.
A expressão “Aproximou-se da árvore”, representa a presença de Jesus perante o povo judeu, tão próximo da grande cidade, observando e analisando a verdadeira condição espiritual de seus habitantes. Também podemos interpretar de outra forma: Jesus se aproximou da humanidade, nascendo  e vivendo entre nós...
Diz ainda o Evangelista Marcos que, ao sair de manhã, Jesus teve fome. Aqui temos mais um símbolo: “Sair de manhã”. É de manhã que surgem os primeiros raios de Sol e a vida recomeça... É o que de fato Jesus, como Governador Espiritual da Terra, tem feito, desde os primeiros momentos da formação do nosso planeta e dos primeiros seres vivos que aqui surgiram... Ele trabalha desde muito cedo, desde as primeiras eras da Humanidade...
Igualmente a expressão: “Jesus teve fome”. É claro que Ele não sentia fome de comida. O sentido de fome aqui é de um anseio: Jesus anseia ver a humanidade transformada, redimida e evangelizada. E não adianta apresentarmos a Ele as aparências de uma fé vaidosa e orgulhosa, uma fé sem obras, uma fé que não produz frutos... Nossa ilusão secará mas, se tivermos a fé verdadeira, operante e confiante, será possível vencer todas as dificuldades!
O evangelista Marcos continua a narração sobre a figueira:
“No dia seguinte, pela manhã, ao passarem junto da figueira, viram que ela secara até a raiz. Pedro lembrou-se do que se tinha passado na véspera e disse a Jesus: “Olha Mestre, como secou a figueira que amaldiçoaste!” Respondeu-lhes Jesus: “Tende fé em Deus...”
Setenta anos após a morte de Jesus, a cidade de Jerusalém foi arrasada pelo exército romano, sob o comando do General Tito. Não sobrou pedra sobre pedra...
Quanto à resposta de Jesus aos discípulos, ela parece sem sentido, no entanto, compreendendo o significado do símbolo da figueira seca, fica fácil entender. Se o povo judeu não vivia conforme a fé que diziam seguir, certamente se comprometiam consigo mesmos. Mas aquele que realmente tem fé e a vivencia no auxílio ao próximo, sobretudo, pode alcançar fatos extraordinários, como “mover uma montanha”.
Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. XIX, ensina que a figueira seca representa todo aquele que pode ser útil mas que não faz nada de bom; são aqueles que pecam por omissão. Ele inclui aqui os médiuns que não querem se comprometer com o exercício da mediunidade como forma de exercer a caridade aos que sofrem moral e espiritualmente.
(Tema abordado na reunião pública do dia 22 de outubro de 2012)

domingo, 14 de outubro de 2012

Considerações sobre a dor

O Evangelho segundo o Espiritismo - Capítulo VI: O Cristo Consolador. 
A compreensão do sofrimento está associada à evolução espiritual da própria humanidade assim como da concepção que a mesma tem sobre Deus.
Na época de Moisés e mesmo naquelas que o precederam, o sofrimento era considerado como um castigo dos deuses, para os pagãos e, para os hebreus, que concebiam e cultivavam a crença no Deus único, o sofrimento também era considerado como uma punição, mesmo porque, para eles, Deus, embora protetor e criador, era um juiz implacável. O sofrimento era a maneira pela qual Ele se expressava para dizer às suas criaturas que elas estavam vivendo em desobediência às suas leis e a dor viria como um meio de castigo, até que retornassem à obediência. Deus era mais temido do que amado. Durante esse período, a humanidade ainda se encontrava numa fase de infância espiritual em relação às profundas questões de natureza espiritual, incluindo a concepção sobre o próprio Criador.
Séculos e séculos depois, mais amadurecida espiritualmente, vem Jesus nos trazer os ensinamentos divinos com uma nova visão. Mostrou à humanidade de então, que Deus era justo mas igualmente e infinitamente misericordioso e o tratava por “Pai”. Jesus também ensinou que o sofrimento, quando aceito e suportado com resignação, coragem e submissão a Deus, seria a garantia da felicidade futura. Ensinou e exemplificou a necessidade de suportarmos, com paciência, as decepções e as vicissitudes da vida, pois esse é o caminho que nos concederá o direito da vida eterna.
Por esse motivo, o Sermão do Monte é um convite ao encorajamento diante da dor. Jesus expõe as consolações reservadas aos que sofrem, mas suas promessas se dirigem ao tempo futuro. Se considerarmos que viveremos “para sempre”, que nunca deixaremos de existir, que a vida é eterna, compreenderemos melhor as promessas de Jesus, garantindo novas existências com menos sofrimento, se confiarmos nEle e em Seus ensinamentos. Jesus mostrou que o sofrimento faz parte da vida como um meio de atingirmos a felicidade e a glória espiritual. Jesus falou ao nosso coração.
No entanto, nem nos tempos de Moisés e nem nos tempos de Jesus ficou claro o por que do sofrimento, isto é, por que sofremos, por que a dor é necessária, por que ela faz parte da vida? Era preciso que a humanidade amadurecesse mais ainda e, somente 1800 anos depois da vinda de Jesus é que ela estava preparada para receber novas lições. Com o advento da Doutrina Espírita, marcada pelo lançamento de “O Livro dos Espíritos”, em 1857 por Allan Kardec, chegava à humanidade o Consolador prometido por Jesus, falando diretamente à nossa razão, respondendo aos “por quês” da vida, sobretudo quando sofremos.
O Espiritismo nos esclarece que o sofrimento representa a forma pela qual nos reequilibramos perante a harmonia divina, baseada totalmente na lei do amor. Toda vez que cometemos uma infração à essa lei, encontraremos, como conseqüência inevitável, a necessidade de nos equilibrarmos e isso se dá através da dor, único instrumento, por enquanto, capaz de nos reajustar às leis divinas, que insistimos em subestimar.
O Espiritismo nos ensina que existe uma causa justa e um objetivo útil para todas as dores. Ou seja, a causa é justa porque Deus é justo, e o objetivo é útil pois auxilia nosso progresso espiritual. Segundo o Benfeitor Emmanuel, “a dor é aviso santificante”, informando-nos de que algo está errado conosco, seja essa dor de natureza física ou moral.
No capítulo V de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, Allan Kardec dedicou muitas orientações sobre a questão do sofrimento, suas causas – atuais e anteriores – como também disponibilizou várias instruções dos Espíritos sobre o assunto. Toda vez que estivermos enfrentando momentos difíceis, façamos uma releitura desse Capítulo pois certamente encontraremos muitas respostas, acalmando nossa razão e consolando nosso coração. Destacamos a lição: “Bem sofrer e mal sofrer”, do Espírito Lacordaire. Diz o Benfeitor Espiritual: “O desânimo é uma falta. Deus vos nega consolações se não tiverdes coragem. A prece é um sustentáculo da alma, mas não é suficiente por si só: é necessário que se apóie numa fé ardente na bondade de Deus. Tendes ouvido frequentemente que Ele não põe um fardo pesado em ombros frágeis. O fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem”.
Em nosso atual estágio evolutivo, infelizmente, ainda temos necessidade do sofrimento e da dor para progredirmos espiritualmente. Não há outro recurso educativo para nossa alma.
Lentamente, no entanto, tomamos consciência de um ensinamento que Jesus nos deixou e que a Doutrina Espírita tomou como bandeira: “Fora da caridade não há salvação”, ou seja, Jesus nos ensinou que se quiséssemos alcançar a vida eterna, era preciso amar a Deus e ao próximo, fazendo a ele tudo o que gostaríamos que ele nos fizesse. Essa é prática da caridade que encontramos nos ensinamentos espíritas, como sendo uma forma de amenizarmos nossas dívidas perante a vida e acelerarmos, ao mesmo tempo, nosso progresso espiritual.
Nosso sofrimento diminui quando diminuímos o sofrimento do nosso irmão. Conquistamos momentos de alegria em nossa vida quando promovemos a alegria para os que sofrem. Foi o que Jesus nos ensinou, mas ao longo de tantos séculos, esquecemos e por isso, ainda hoje, sofremos...
(Tema abordado na reunião pública do dia 8 de outubro de 2012)

domingo, 16 de setembro de 2012

Falando por parábolas


Por que Jesus falava, muitas vezes, por parábolas? Ou melhor: por que foi necessário que muitos ensinamentos de Jesus fossem transmitidos através de parábolas?
Essa também foi a pergunta que os seus  discípulos Lhe fizeram, logo após Ele ter contado a parábola do semeador (Mateus, 13:10-15).
Analisemos, primeiramente, o sentido da palavra parábola. Ela se origina no vocábulo grego “parabole”, que por sua vez deriva do verbo “paraballein” (colocar ao lado de; comparar); por isso, a palavra “parábola” significa literalmente “colocado ao lado de”; em outras palavras: colocar uma coisa ao lado de outra com a finalidade de comparação, ilustração.
Sendo assim, na atualidade, a parábola é uma estória na qual se empregam imagens comuns, colocadas “lado-a-lado” com o ensinamento moral que se quer transmitir. É um recurso pedagógico do qual Jesus se utilizava com frequência.
No livro "Parábolas de Jesus texto e contexto", de Haroldo Dutra Dias, o autor afirma que no hebraico haviam dois termos distintos:
- a raiz verbal “mshl” significando “comparar, ser ou tornar-se comparável a, ou tornar-se semelhante a.
- o substantivo “mashal” o qual apresenta uma grande quantidade de significados tais como: oráculo, provérbio, parábola, alegoria, máxima, adágio, dito satírico, ironia, insulto.
É possível perceber que “parábola” e “mashal” não significam a mesma coisa. Quando os antigos escritos hebraicos foram traduzidos para o grego, a palavra “mashal”, com significados muito mais abrangentes, foi traduzida como “parábola”. Como conseqüência, alguns trechos do Evangelho perderam seu sentido original, dificultando assim sua compreensão.
Temos igualmente vários exemplos em nossa época: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, “onde há fumaça, tem fogo”, “é bom ser importante, mas é mais importante ser bom”, “comer pelas bordas”, “enquanto o cavalo é manso, ninguém anda a pé”, etc. Alguns só tem sentido em nossa língua; se fossem traduzidos para outro idioma, perderiam o sentido original, a rima deixaria de existir e as pessoas estrangeiras não as compreenderiam. Foi o que aconteceu na tradução do hebraico para o grego. O pensamento hebraico foi mantido mas a originalidade se perdeu.
Ao transmitir seus ensinamentos para o povo, Jesus utilizou a mesma tradição dos antigos hebreus: a transmissão oral dos ensinamentos. Essa era a forma utilizada já que a escrita e a leitura eram dominados por pouquíssimas pessoas. Além disso, a escrita era muito cara já que não existia papel como hoje, apenas o pergaminho e o papirus. Os livros sagrados ficavam somente nas sinagogas e no templo. Para memorizar os ensinamentos, os hebreus empregavam muitos trocadilhos, provérbios, rimas, comparações, poesias, cantos.
Jesus assim também o fez, principalmente quando se dirigia aos habitantes da região da Galiléia. Eram pessoas simples, preocupadas com as atividades diárias da pesca e da produção de alimentos; cumpriam suas obrigações religiosas mas não se perdiam seu tempo discutindo questões filosóficas em torno da religião.
Por isso Jesus empregava, com abundância, imagens e figuras relacionadas com a vida no campo, a atividade da pesca, as lições da natureza, pois faziam parte do cotidiano daquelas pessoas e elas conheciam muito bem. Dessa forma, seria mais fácil para elas memorizarem os ensinamentos de Jesus, mesmo que não conseguissem alcançar a profundidade moral de seus ensinamentos. Mesmo com a simplicidade de entendimento daquelas pessoas, com essa técnica de aprendizado empregada por Jesus, elas conseguiriam transmitir a outros, as lições recebidas. Quanta sabedoria Jesus possuía! Era, de fato, um mestre notável!
Utilizando essa prática, Jesus tocava o coração dos mais simples e confundia o suposto saber dos mais orgulhosos “porque eles vendo, não vêem, e ouvindo não ouvem, nem entendem”. Já aos discípulos, Jesus abordava as leis de Deus de forma mais aprofundada “porque a vós outros vos é dado saber os mistérios do Reino de Deus, mas a eles não lhes é concedido”, ou seja, os discípulos já possuíam capacidade maior de entendimento, por isso, receberiam maiores ensinamentos: “ao que tem, se lhe dará, e terá em abundância”.
Se, nos tempos de Jesus, a humanidade ainda não estava preparada para um entendimento mais aprofundado sobre as leis de Deus, séculos mais tarde, esses mesmos ensinamentos foram revividos e relembrados de forma mais amadurecida com o Espiritismo. A humanidade já se encontrava apta a receber ensinamentos mais aprofundados. É por esse motivo que a Doutrina Espírita, na atualidade, traz de volta os ensinamentos de Jesus de forma mais ampla, permitindo a aqueles que tem “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir”, compreender melhor tais ensinamentos.É o que analisa Kardec, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. 24, item 7:
“O Espiritismo vem atualmente lançar a sua luz sobre uma porção de pontos obscuros, mas não o faz inconsideravelmente. Os Espíritos procedem, nas suas instruções, com admirável prudência. É sucessiva e gradualmente que eles tem abordado as diversas partes já conhecidas da doutrina, e é assim que as demais partes serão reveladas no futuro, à medida que chegue o momento de fazê-las sair da obscuridade.”

(Tema apresentado na reunião pública do dia 10 de setembro de 2012)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Vidência e clarividência

É comum encontrarmos, entre aqueles que iniciam os estudos e o desenvolvimento da mediunidade, o desejo (muitas vezes secreto) de adquirir a vidência, isto é, a faculdade de ver os Espíritos.
Inicialmente, é preciso buscar, nas orientações de Kardec em “O Livro dos Médiuns”, sua definição para médiuns videntes (cap. 14 da Segunda Parte, item 167):
“Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os Espíritos. Há os que gozam dessa faculdade em estado normal, perfeitamente acordados, guardando lembrança precisa do que viram. Outros só a possuem em estado sonambúlico ou aproximado do sonambulismo. É raro que esta faculdade seja permanente, sendo quase sempre o resultado de uma crise súbita e passageira.”
Já em relação ao que se costuma denominar como clarividência, Kardec tratava como segunda vista ou dupla vista e é no livro “Obras póstumas” que ele trata especificamente desse tema. A diferença entre a vidência simples e aquilo que denominamos clarividência fica bem delineada nos comentários de Kardec. Em linhas gerais ele conclui que o médium vidente comum vê os Espíritos porque são estes que se fazem ver; em outras palavras, é o Espírito que quer ser visto e assim, se manifesta ao médium vidente, que assim registra sua presença.
Nas pessoas que possuem a clarividência, ou segunda vista, segundo Kardec, a visão do mundo espiritual e dos Espíritos é algo natural, ocorrendo no estado de vigília, sendo sempre natural e espontâneo. Isso fica claro nessas palavras que ele anotou em Obras Póstumas:
“É de notar-se que as pessoas dotadas dessa faculdade não suspeitam possuí-la. Ela se lhes afigura natural, como a de ver com os olhos. Consideram-na um atributo de seu ser e nunca coisa excepcional”.
Outro ponto importante em relação à segunda vista é que ela se desenvolve segundo a moralidade de quem a possui, conforme esclarece Kardec:
“Esse dom da segunda vista é que, em estado rudimentar, dá a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma espécie de segurança aos atos, o que se pode com justeza denominar golpe de vista moral. Mais desenvolvido, ele acorda os pressentimentos, ainda mais desenvolvido, faz ver acontecimentos que já se realizaram, ou que estão prestes a realizar-se; finalmente, quando chega ao apogeu, é o êxtase vigil.”  (vigil é sinônimo de acordado).
Com as elucidações de Kardec sobre o tema, pode-se concluir que a percepção do mundo espiritual se amplia conforme vamos progredindo espiritualmente. Aqueles que a Igreja consagrou como santos, muitos eram portadores da segunda vista e entravam em verdadeiros êxtases diante das visões do mundo espiritual. Em compensação, o médium vidente comum só vê um Espírito se este quiser ser visto.
Como a vidência é um fenômeno subjetivo, é preciso estar atento sobre os fatos que os médiuns videntes narram sobre aquilo que vêem, já que muitos, na ânsia de algo mostrarem, acabam sugestionados pela própria imaginação exaltada. Por esse motivo, é sempre necessário conhecer a índole, o caráter e a moralidade daqueles que dizem ser videntes.
O exemplo mais próximo que possuímos, em nossos tempos, é o de Francisco Cândido Xavier. Ele possuía a segunda vista, ou seja, percebia o mundo espiritual com naturalidade mas, justamente por ser pessoa espiritualmente muito acima da humanidade comum, essa faculdade já era para ele uma conquista.
Por ser portador de rigorosa disciplina, material e principalmente espiritual, por sua fé inabalável, por sua fidelidade aos ensinamentos de Jesus e Kardec, e mais ainda pelo seu imenso amor ao próximo, ele soube conviver com as duas realidades ao mesmo tempo, sem fazer alarde do que presenciava, sem projetar-se pessoalmente com o que percebia.
Para nós outros, a percepção permanente dos Espíritos e do mundo espiritual certamente nos levaria ao desequilíbrio mental.
Muitas pessoas que se aproximavam  de Chico, em busca de orientação para a mediunidade, diziam a ele o quanto desejavam ser médium vidente, ao que ele respondia: “quem vê o lírio, também vê o sapo”. Recomendação profunda, em palavras simples. Como estamos longe da evolução espiritual, certamente veríamos mais Espíritos sofredores e perturbados do que Espíritos iluminados; veríamos mais quadros de sofrimento do que cenários da Espiritualidade Superior!
Com base nos ensinamentos de Kardec, sobretudo em “Obras póstumas”, e com os vários exemplos que Chico Xavier nos deixou, podemos dizer: ao invés de ficar tentando ver Espíritos, voltemos nossos olhos para nós mesmos, para nossas imperfeições, para nossa necessidade de reforma interior, buscando adquirir as qualidades que ainda nos faltam.
Ao invés de buscarmos os fenômenos que a vidência pode proporcionar, voltemos nossa atenção para os ensinamentos que a Doutrina Espírita nos oferece, estudando e compreendendo melhor a delicada questão da mediunidade.

(Tema abordado na reunião pública do dia 20 de agosto de 2012)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

8 de julho de 1927: início da psicografia de Chico Xavier



Há 85 anos, iniciava-se, no Brasil, um novo momento para a divulgação da Doutrina Espírita. Um jovem modesto e humilde, no interior simples e bucólico de Minas Gerais, trazia consigo uma tarefa até então nunca presenciada: a tarefa da psicografia de livros espíritas, num total que ultrapassa mais de 400 obras. Fez mais que isso: deixou a todos incontáveis exemplos, como ser humano e como médium espírita-cristão.
A psicografia de Chico Xavier teve início em 8 de julho de 1927, quando ele tinha apenas 17 anos. Participava ele de uma reunião, no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, MG, juntamente com um casal de amigos, quando recebe a orientação para escrever. Recebe então, pela psicografia, extensa mensagem. Começava aí sua tarefa maior no campo da mediunidade: a psicografia.
Essa data merece e dever ser lembrada sempre!
Chico Xavier era portador de várias formas de manifestações mediúnicas, inclusive aquelas consideradas raras como a psicometria. A psicometria é uma faculdade mediúnica, aliás raríssima, na qual o médium, em contato com determinados objetos, toma conhecimento de tudo que os tenha envolvido. Chico Xavier a possuía e foram várias as ocasiões onde pode demonstrá-la espontaneamente. O caso mais conhecido, envolvendo Chico, é o da espada do Capitão Jofre.

Um caso de psicometria: a espada do capitão Jofre

Jofre Leles era capitão da Policia Militar em Belo Horizonte. Certa vez, ao retornar de Teófilo Otoni-MG, encontrou, por acaso, às margens do Rio Mesura, restos do que havia sido uma espada: suas copas com uns dez centímetros de lâmina já bastante enferrujada e carcomida pelo tempo. Ele contou que, desde o achado, vivia sonhando com lutas sangrentas, soldados guerreiros, espadas e tudo o mais.
Bastante impressionado, resolveu procurar Chico Xavier, que nessa época ainda residia em Pedro Leopoldo, para uma conversa em torno do assunto. Levou a “espada” e relatou ao Chico o ocorrido. Ele pegou o objeto, sem nem mesmo olhá-lo detidamente. Limitou-se a tocá-lo, devagarinho, como se naquele gesto extraísse toda a sua história. Uma verdade, pois, sem demora, Chico falou-lhe:
- Capitão Jofre, esta espada lhe pertence há muito tempo. Por volta de 1840, você, nas vestes de um capitão da milícia mineira, guerreou bravamente na cidade de Filadélfia, hoje Teófilo Otoni, durante sua revolução, a chamada Revolução Liberal. Na refrega, foi ferido e a espada lá ficou!
Jofre, espantado, analisava a novidade, sem saber se acreditava ou não nas palavras de Chico. Este, percebendo-lhe a surpresa e a dúvida, informou que, no pedaço de lâmina oxidado, estava gravada sua insígnia de coronel de 100 anos atrás, a mesma que ele usava na atualidade, como capitão da Polícia Militar que era.
Jofre, ao chegar em Belo Horizonte, tudo fez para limpar o metal envelhecido, a fim de certificar-se, de uma vez por todas, da veracidade da história.
E, debaixo de tudo que cobria o aço brilhante, lá estavam duas pequeninas palavras. Duas palavras latinas que eram a sua insígnia: Honor e Fides (Honra e Fidelidade).
Duas palavras que resumiram e atestaram a capacidade de Chico Xavier como portador de uma mediunidade rara: a psicometria.  

Fonte: Chico Xavier, Mandato de Amor – publicação da União Espírita Mineira
(Tema abordado na reunião pública do dia 9 de julho de 2012)

sábado, 30 de junho de 2012

30 de junho de 2012: dez anos da desencarnação de Chico Xavier


Francisco Cândido Xavier (2 de abril de 1910 - 30 de junho de 2002)
Desencarnou com 92 anos de idade.
Dedicou 75 anos de sua vida à mediunidade.













Obrigado Chico!...

... pelas milhares de mensagens consoladoras, que enxugaram lágrimas e alimentaram a fé em Deus de muitas famílias;

... pelas centenas de livros psicografados que trouxeram lições, poesias, reflexões, exemplos e uma grande verdade: a morte não existe!

... pelas incontáveis horas atendendo mulheres e homens atormentados, crianças famintas, jovens sem rumo e Espíritos infelizes;

... por chorar conosco nossas dores, orar conosco por nossas vidas, enfrentar conosco nossos defeitos, sem nunca pedir nada para si mesmo;

... por respeitar nossa crença, estimular nossa fé, valorizar nossa opinião, sendo sempre espírita e leal à mensagem de Jesus;

... por ser paciente ainda que agredido, humilde ainda que exaltado, por servir e sorrir ainda que doente.

Chico desencarnou em 30 de junho de 2002, dia em que o Brasil ganhou a Copa do Mundo.
Um de seus desejos era partir quando o Brasil estivesse muito feliz.
Foi atendido.

Texto: Rômulo Tavares
Federação Espírita do Rio Grande do Norte

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Energia x Fluido

A palavra energia está na moda. Aplicada em vários segmentos, pode apresentar diversos significados mas, aqueles que a utilizam, nem sempre tem a preocupação de utilizá-la corretamente ou conhecer seu verdadeiro significado.
Ela pode ser interpretada como vigor, como na frase: ‘as crianças possuem muita energia!’. Também pode expressar autoridade: ‘o comandante dirige seus soldados com energia’.
No campo das Ciências, particularmente na Física, define-se Energia como sendo a “capacidade de realizar trabalho”.
Já a palavra “fluido” é raramente utilizada e, quando a utilizam, é pronunciada como ‘fluído’, que na verdade é o particípio passado do verbo fluir. Define-se fluido como sendo todo elemento ou substância que não tem forma própria. São considerados como fluidos os líquidos e os gases. Há outros mais sutis, como o fluido elétrico e o fluido magnético.
Assim como temos fluidos materiais, que fazem parte do nosso dia-a-dia, também há fluidos de natureza espiritual.
Os fluidos materiais são manipulados pelo próprio ser humano de inúmeras formas, conforme as necessidades para manutenção da vida física: na elaboração dos alimentos, na composição de medicamentos, na utilização de aparelhos eletroeletrônicos, entre outros.
Já os fluidos de natureza espiritual são manipulados pelos Espíritos, e essa utilização não depende do seu nível de evolução; tanto os Espíritos superiores quanto os inferiores, manipulam fluidos espirituais. Nós não podemos ver esses fluidos, mas podemos sentir seus efeitos pela agradável ou desagradável sensação que nos proporcionam.
Infelizmente no meio espírita, o uso da palavra ‘energia’ também se espalhou. Encontramos, com frequência, expressões como: energias positivas e negativas, doação de energias, centros energéticos, energias descompensadas, etc. É muito comum, por exemplo, dizer que o passe é uma “transfusão de energias”. O correto é dizer que o passe é uma transfusão de fluidos de natureza superior, que irão auxiliar no equilíbrio espiritual, mental e também físico de quem o recebe.
É preciso recorrer sempre aos ensinamentos dos Espíritos Superiores a respeito, através das obras de Allan Kardec. Ele foi fiel aos ensinamentos dos Espíritos e aos conceitos científicos já admitidos e empregados em sua época (e ainda hoje). Mesmo tendo esse grande cuidado, Kardec ainda assim foi criticado. O que seria dele e da Doutrina caso tivesse optado por não se preocupar com o aspecto científico contido nos ensinamentos que recebia da Espiritualidade? Não deve passar desapercebido, para quem estuda com profundidade as obras de Kardec, que ele não empregou a palavra ‘energia’ em nenhum de seus livros, nem na Revista Espírita.Em sua quinta e última obra “A Gênese”, ele dedicou um capítulo para tratar especialmente dos “Fluidos” (Capítulo 14).
O Espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, também tratou dos fluidos na obra “Evolução em dois mundos”. Já no capítulo 1 da Primeira Parte, ele trata do ‘Fluido Cósmico’ e, no Capítulo 13, ele trata da ‘Alma e Fluidos’.
Esses temas são trabalhosos e, devido à sua dificuldade, oferecem uma resistência muito grande para o seu estudo nas casas espíritas. Sem dúvida, a questão é complexa e profunda, mas isso não impede que se aprenda, com Kardec, a utilizar os conceitos espíritas de forma correta.
Muitos poderão contestar dizendo que Jesus também não disse nada a respeito desse assunto. Disse sim, e várias vezes! Mas, adequando seus ensinamentos à capacidade de compreensão das pessoas daqueles tempos, Ele utilizou essa verdade sublime através de um conceito que Ele destacou com ênfase: a fé. Dizia Ele aos que recebiam a benção da cura de seus males: ‘a tua fé te salvou’; ou aos que se sentiam sobrecarregados pelo sofrimento: ‘se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda...’!
A fé, capacidade de confiança no poder divino, semente que todos podem desenvolver, foi enfatizada por Jesus em muitos de seus ensinamentos, mostrando o grande poder de atração que ela possui, em benefício de quem a soubesse aplicar com sabedoria. Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo (Cap. 19, item 5) também citou a fé, como poderoso fluido magnético, isto é, com grande poder de atração,  dizendo que ‘graças a ela, o homem age sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá impulso por assim dizer irresistível.’
Recomenda-se portanto, muita cautela no emprego desses dois conceitos: energia e fluido. Importante analisar as obras espíritas, sobretudo as da atualidade, para verificar até que ponto os autores estão comprometidos com os aspectos científicos da Doutrina, mantendo fidelidade aos mesmos, assim como Kardec o fez. 
(Tema apresentado na reunião pública do dia 4 de junho de 2012)


quinta-feira, 31 de maio de 2012

Dizes que sou o futuro...


Livro: Vereda familiar - médium J. Raul Teixeira

Quando nos deparamos com a grande tarefa de educar nossas crianças, nos perguntamos como seremos capazes de cumprir tal tarefa com o ritmo de vida que levamos hoje em dia. O trabalho nos consome as energias. Em casa, muitas vezes falta-nos o apoio dos demais elementos da família  e com isso as tarefas diárias do lar, normalmente, se acumulam apenas para uma só pessoa. O tempo vai passando e às vezes nem tomamos consciência do que fizemos ou como fizemos.
Esta roda-viva reflete-se nas nossas atitudes em todos os âmbitos de nossa vida e, como não podemos atribuir a outras pessoas algumas tarefas que são nossas, muitas vezes deixamos para outros a tarefa da educação das nossas crianças, delegando esta atribuição para a escola, instituição que tem como finalidade a transmissão dos conhecimentos e não a de educar nossos filhos.
Outras vezes, delegamos esta tarefa sublime para os avós, pessoas que também não tem esta função; eles já cumpriram esta tarefa conosco.
Há momentos em que delegamos esta função à televisão, nossa babá eletrônica, sem nos darmos conta dos conteúdos apresentados por ela, não só o conteúdo dos programas, mas também das propagandas entre os programas, com forte apelo violento ou sensual.
A função DE EDUCAR é nossa. Esta função é de pai e de mãe.
Assumimos compromissos com os espíritos de nossos filhos antes da reencarnação, assim como nossos pais assumiram conosco, e como é tarefa nossa, não podemos ficar esperando que outros (o professor, os avós, a babá, a televisão) façam o que é tarefa nossa.
Vocês podem me perguntar: e a falta de tempo, o que fazer? Trabalho fora, não tenho quem me auxilie nas tarefas de casa, meus familiares não me ajudam nas tarefas domésticas ou na educação dos filhos, só eu renuncio a tudo e os outros ficam no descanso?
Que tal uma rodada de conversa entre os membros da casa para que haja uma melhor distribuição das tarefas e com isso uma maior valorização das rotinas diárias da casa (arrumação de camas, tirar os pratos da mesa, uma semana um lava a louça o outro enxuga, um é responsável pelo cachorro o outro pelo passarinho, etc.). Organizar o tempo na televisão, o tempo de ler, o tempo de computador, o tempo de vídeo game, o tempo de conversar, o tempo de evangelho no lar.
Com estas pequenas atitudes diárias poupa-se o tempo de uma só pessoa que tudo faz para que possa fazer outras coisas como passear, conversar, orientar os filhos e com isso melhorar o relacionamento familiar.
Concluímos que a nossa tarefa de educar nossos filhos é permanente, é constante e É NOSSA, procuremos não deixar que o aprendizado dos valores realmente importantes para o futuro dos nossos filhos seja adiado ou atribuído a outras pessoas ou instituições que desempenham outros papéis na nossa vida. Abracemos então a sublime tarefa de educar.

Margareth Blezer - Coordenadora do Departamento de Evangelização Infanto-Juvenil
Tema apresentado na reunião púbica de 28 de maio de 2012

domingo, 29 de abril de 2012

Terra: benção divina



Não são poucos os que dizem que o mundo está perdido e, mantendo sua visão pessimista sobre a vida na Terra, continuam destacando somente o lado negativo de fatos e pessoas. Procuram estar por “dentro das notícias” apenas com um objetivo único: destacar as deficiências da Humanidade.
Dizem que a juventude está perdida, no entanto, talvez desconheçam que há milhões de crianças e jovens nas escolas, debruçados sobre livros, ao longo de anos, envolvidos com a demorada conquista do saber. Muitos desses jovens trabalham durante o dia e estudam a noite, sacrificando a saúde, para conseguirem garantir um futuro melhor para si e para a própria família.
Dizem que a desordem anda solta, com tantos desocupados que atravessam as horas da noite a busca de prazeres ou ações criminosas. Esquecem-se dos milhares de profissionais que trabalham durante a noite, para que o nosso dia transcorra com segurança. São os profissionais da limpeza pública, os profissionais da saúde, médicos, enfermeiros, bombeiros, etc. Igualmente nas indústrias em geral, há milhares de operários que trabalham a noite, garantindo a produção de artigos que facilitam nossa vida material e aumentam nosso conforto. E quantos outros não trabalham para que as pessoas possam descansar nos períodos de férias?
Há os que criticam com tenacidade a falta de qualidade na área da saúde e louvam, com adoração, esportistas que se degradam com a notoriedade alcançada. Esquecem-se essas pessoas e nem ficam sabendo dos incontáveis pesquisadores e cientistas que passam a vida nos laboratórios a procura de medicamentos e vacinas que diminuam  o sofrimento físico.
Quantos criticam os meios de transportes e as rodovias, esquecendo-se de quantos operários anônimos tiverem seus dedos quebrados, quantos ferimentos, quantos suores e sangue, para que as estradas pudessem unir os povos.
O desequilíbrio de alguns, que são realmente minoria, não deve ser apresentado como justificativa pelo momento que atravessamos.
A misericórdia divina proporciona sempre os meios de amenizar as dificuldades da vida material, utilizando o próprio homem como instrumento de auxílio mútuo. Há milhares de pessoas suando e sofrendo, lutando e amando, para que seja possível a construção de um mundo melhor para todos. Nosso planeta ainda está em construção. Não podemos amaldiçoá-lo. Devemos nos lembrar que aqui na Terra é que encontramos as oportunidades de progresso espiritual, de que todos necessitam; não estamos aqui vivendo como condenados, nem como culpados, mas como seres em processo de aprendizado e aperfeiçoamento.
Mas, se contamos com as bênçãos que o planeta nos oferece, por misericórdia divina, ele certamente conta com nossa colaboração para que passe a ser, de fato, a morada de Espíritos bem-aventurados.
Em várias passagens do Evangelho Jesus disse que seu reino não era desse mundo. Ainda não. Um dia será. Nos mundos mais adiantados o Reino dos Céus já está instalado porque os seres que os habitam já tem instalado esse reino em seus corações. O mal não mais encontra oportunidades de se manifestar. Se o reino de Jesus ainda não é desse mundo é porque aqui o seu reino ainda não está em nossos corações.
O Espírito Emmanuel diz que Deus não nos ofertou o planeta como exílio ou prisão mas si como “escola regenerativa e abrigo santo, qual divino jardim a pleno céu, esmaltado de sol, durante o dia, e envolvido de estrelas, durante a noite.”
É aqui na Terra que encontramos aqueles a quem amamos, que temos a oportunidade de desenvolver as habilidades com as quais mais nos afinamos, de realizar conquistas no campo do bem e da verdade.
(Tema apresentado na reunião pública do dia 23 de abril de 2012)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Paris - 18 de abril de 1857


Em princípios de 1857, o livreiro E.Dentu, amigo do Professor Hyppolyte Léon Denizard Rivail, desde os idos de 1828, havia encaminhado os originais da primeira obra espírita compilada pelo referido professor à tipografia de Beau, situada em Saint Germain em Laye, 23 Km a oeste de Paris.
O proprietário da tipografia presidia normalmente os trabalhos de revisão e aprimoramento do que viria a ser a primeira obra da Codificação Espírita, quando algo inesperado sucedeu-se: sua desencarnação.
O fato logo repercutiu negativamente no andamento da obra, já que os dois filhos do tipógrafo relegaram-na ao esquecimento ao assumirem o posto do pai. Os apelos do Prof. Rivail não se fizeram ouvir e os filhos limitavam-se a dizer que a feitura da edição iria demorar muito.
Valendo-se de inspiração superior, o Prof. Rivail resolveu por bem solicitar o concurso da viúva do tipógrafo. Deliberou visitá-la em sua residência e esclareceu-lhe sobre o que se passava. A viúva, tomada de simpatia pela causa, leu os originais de “O Livro dos Espíritos”. Sentindo-se reconfortada em sua dor moral, e usando de sua autoridade perante os filhos, escreveu sobre os originais a ordem irrevogável: “TRÉS URGENT (URGENTÍSSIMO)”. A tipografia logo iniciou a impressão e o indispensável acabamento dos dois mil primeiros exemplares, em formato grande, com 176 páginas. Raiava o inesquecível dia 18 de abril daquele ano de 1857, e os editores, representados por Dentu, finalmente trouxeram a lume, na praça parisiense, a auspiciosa edição. A Cidade-Luz acabava de acolher, então, em seu seio, a luz mais brilhante e poderosa de sua historia.
Amandine Aurore Lucien Dupim
(França, 1804-1876)
Neste mesmo dia, conceituado jornal parisiense anunciava a visita a Paris da célebre escritora francesa, de pseudônimo George Sand, chamada Amandine Aurore Lucien Dupim*. A extraordinária mulher, literata das mais notáveis, era dona de uma personalidade bastante forte e de uma cultura invulgar, acostumada que estava ao convívio de amigos da vanguarda européia, como Victor Hugo, Franz Liszt e Eugene Delacroix. Fora, inclusive, a companheira, por longos anos, de Frédéric Chopin. Viera a Paris, como crítica de arte, para assistir a uma famosa peça teatral que analisava a personalidade feminina.
Amigo da escritora desde muitos anos, ele havia lido com atenção a referida nota jornalística. Eles, que já haviam trocado tantas ideias espiritualistas, certamente poderiam encontrar-se de novo. Seria gratificante a ele saber a opinião de Mme. Sand sobre “O Livro dos Espíritos”.
E assim foi que, andando pelas ruas de Paris, com o primeiro exemplar do livro nas mãos e, por isso, pleno de alegria, o professor avistou a carruagem de Sand, reconhecendo-a em seu interior. Imediatamente acenou e, cumprimentando-a, disse:
- Madame Sand, venho oferecer-lhe o primeiro livro da Doutrina dos Espíritos!
Ao que ela, surpresa, retrucou:
- Ah, Professor Denizard – ela assim o chamava – eu sei que o senhor está fazendo experiências verdadeiras. Eu mesma sou delas testemunha, porque desde quando muito jovem, observava alguém, um vulto, a me acompanhar o tempo todo, a me espreitar! De pequena, lutei muito para que os demais compreendessem o que se passava comigo, mas, em vão!... Bem, não nos importemos com as incompreensões, e sigamos avante!...  O senhor está de parabéns, professor!
 O Prof. Rivail agradeceu-lhe a acolhida fraterna, dizendo-lhe que estimaria muitíssimo ver sua apreciação da obra. Ela lhe respondeu, afável:
- Professor Denizard, guarde para si este exemplar, do qual não sou digna. Alegrar-me-ei bastante em opinar sobre ele mais tarde, quando o tempo me permitir. Atualmente, tenha a vida atribulada de compromissos. Prometa enviar-me outro volume posteriormente.
A 20 de maio do mesmo ano, Allan Kardec endereçava-lhe expressiva carta, com um exemplar de “O Livro dos Espíritos”, em anexo. Ela o recebeu e leu com atenção e, três meses depois, procurando o amigo, falou-lhe:
- Professor Denizard, gostaria muito de acompanhá-lo em suas demandas por estas ideias renovadoras de nosso mundo, mas sinto que somente iria atrapalhar seu livre desenvolvimento. Minha condição de mulher, com conceitos e comportamentos revolucionários, não ajudaria em nada a verdade que esta filosofia apresenta. Recuso-me, pois, a escrever qualquer artigo sobre este livro de luz. Eu, certamente, apenas contribuiria para obnubilá-lo. Conto com a sua compreensão e prometo, outrossim, colaborar com o senhor no que estiver ao meu alcance.
Dez anos mais tarde, na edição de janeiro de 1867 da Revista Espírita, sob o título “Os Romances Espíritas”, Allan Kardec comentaria algumas obras literárias de Mme. George Sand, nas quais, segundo ele, os enredos e os pensamentos eram inteiramente espíritas.
Allan Kardec e Madame Sand novamente se encontraram, somente em 18 de abril de 1957, cem anos decorridos sobre aquele encontro nas ruas de Paris e, desta vez, despojados da veste corporal. Ela foi um dos Espíritos de elite que compareceu à grande solenidade espiritual, em homenagem a Allan Kardec, levada a efeito na Vida Maior, por ocasião do primeiro centenário de “O Livro dos Espíritos.” 
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Nota:
(*) Aclamada romancista e memorialista francesa, considerada uma das precursoras do feminismo.
(**) Relato baseado em conversa com o médium Chico Xavier, publicado no livro "Mandato de amor", pela União Espírita Mineira.