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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Paris - 18 de abril de 1857


Em princípios de 1857, o livreiro E.Dentu, amigo do Professor Hyppolyte Léon Denizard Rivail, desde os idos de 1828, havia encaminhado os originais da primeira obra espírita compilada pelo referido professor à tipografia de Beau, situada em Saint Germain em Laye, 23 Km a oeste de Paris.
O proprietário da tipografia presidia normalmente os trabalhos de revisão e aprimoramento do que viria a ser a primeira obra da Codificação Espírita, quando algo inesperado sucedeu-se: sua desencarnação.
O fato logo repercutiu negativamente no andamento da obra, já que os dois filhos do tipógrafo relegaram-na ao esquecimento ao assumirem o posto do pai. Os apelos do Prof. Rivail não se fizeram ouvir e os filhos limitavam-se a dizer que a feitura da edição iria demorar muito.
Valendo-se de inspiração superior, o Prof. Rivail resolveu por bem solicitar o concurso da viúva do tipógrafo. Deliberou visitá-la em sua residência e esclareceu-lhe sobre o que se passava. A viúva, tomada de simpatia pela causa, leu os originais de “O Livro dos Espíritos”. Sentindo-se reconfortada em sua dor moral, e usando de sua autoridade perante os filhos, escreveu sobre os originais a ordem irrevogável: “TRÉS URGENT (URGENTÍSSIMO)”. A tipografia logo iniciou a impressão e o indispensável acabamento dos dois mil primeiros exemplares, em formato grande, com 176 páginas. Raiava o inesquecível dia 18 de abril daquele ano de 1857, e os editores, representados por Dentu, finalmente trouxeram a lume, na praça parisiense, a auspiciosa edição. A Cidade-Luz acabava de acolher, então, em seu seio, a luz mais brilhante e poderosa de sua historia.
Amandine Aurore Lucien Dupim
(França, 1804-1876)
Neste mesmo dia, conceituado jornal parisiense anunciava a visita a Paris da célebre escritora francesa, de pseudônimo George Sand, chamada Amandine Aurore Lucien Dupim*. A extraordinária mulher, literata das mais notáveis, era dona de uma personalidade bastante forte e de uma cultura invulgar, acostumada que estava ao convívio de amigos da vanguarda européia, como Victor Hugo, Franz Liszt e Eugene Delacroix. Fora, inclusive, a companheira, por longos anos, de Frédéric Chopin. Viera a Paris, como crítica de arte, para assistir a uma famosa peça teatral que analisava a personalidade feminina.
Amigo da escritora desde muitos anos, ele havia lido com atenção a referida nota jornalística. Eles, que já haviam trocado tantas ideias espiritualistas, certamente poderiam encontrar-se de novo. Seria gratificante a ele saber a opinião de Mme. Sand sobre “O Livro dos Espíritos”.
E assim foi que, andando pelas ruas de Paris, com o primeiro exemplar do livro nas mãos e, por isso, pleno de alegria, o professor avistou a carruagem de Sand, reconhecendo-a em seu interior. Imediatamente acenou e, cumprimentando-a, disse:
- Madame Sand, venho oferecer-lhe o primeiro livro da Doutrina dos Espíritos!
Ao que ela, surpresa, retrucou:
- Ah, Professor Denizard – ela assim o chamava – eu sei que o senhor está fazendo experiências verdadeiras. Eu mesma sou delas testemunha, porque desde quando muito jovem, observava alguém, um vulto, a me acompanhar o tempo todo, a me espreitar! De pequena, lutei muito para que os demais compreendessem o que se passava comigo, mas, em vão!... Bem, não nos importemos com as incompreensões, e sigamos avante!...  O senhor está de parabéns, professor!
 O Prof. Rivail agradeceu-lhe a acolhida fraterna, dizendo-lhe que estimaria muitíssimo ver sua apreciação da obra. Ela lhe respondeu, afável:
- Professor Denizard, guarde para si este exemplar, do qual não sou digna. Alegrar-me-ei bastante em opinar sobre ele mais tarde, quando o tempo me permitir. Atualmente, tenha a vida atribulada de compromissos. Prometa enviar-me outro volume posteriormente.
A 20 de maio do mesmo ano, Allan Kardec endereçava-lhe expressiva carta, com um exemplar de “O Livro dos Espíritos”, em anexo. Ela o recebeu e leu com atenção e, três meses depois, procurando o amigo, falou-lhe:
- Professor Denizard, gostaria muito de acompanhá-lo em suas demandas por estas ideias renovadoras de nosso mundo, mas sinto que somente iria atrapalhar seu livre desenvolvimento. Minha condição de mulher, com conceitos e comportamentos revolucionários, não ajudaria em nada a verdade que esta filosofia apresenta. Recuso-me, pois, a escrever qualquer artigo sobre este livro de luz. Eu, certamente, apenas contribuiria para obnubilá-lo. Conto com a sua compreensão e prometo, outrossim, colaborar com o senhor no que estiver ao meu alcance.
Dez anos mais tarde, na edição de janeiro de 1867 da Revista Espírita, sob o título “Os Romances Espíritas”, Allan Kardec comentaria algumas obras literárias de Mme. George Sand, nas quais, segundo ele, os enredos e os pensamentos eram inteiramente espíritas.
Allan Kardec e Madame Sand novamente se encontraram, somente em 18 de abril de 1957, cem anos decorridos sobre aquele encontro nas ruas de Paris e, desta vez, despojados da veste corporal. Ela foi um dos Espíritos de elite que compareceu à grande solenidade espiritual, em homenagem a Allan Kardec, levada a efeito na Vida Maior, por ocasião do primeiro centenário de “O Livro dos Espíritos.” 
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Nota:
(*) Aclamada romancista e memorialista francesa, considerada uma das precursoras do feminismo.
(**) Relato baseado em conversa com o médium Chico Xavier, publicado no livro "Mandato de amor", pela União Espírita Mineira.

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