Em nossas reuniões de assistência espiritual direcionada para Espíritos necessitados de auxílio, que sofrem e fazem sofrer, notamos que muitos deles sequer conseguem pronunciar o nome de Deus ou apresentam muita dificuldade para isso.
Quando questionamos – “Você acredita em Deus?” – alguns dizem que não. Entre os que acreditam, alguns dizem que não consideram necessário pensar no assunto e outros afirmam que, embora acreditem, não cultivaram essa crença ou simplesmente não a utilizaram em benefício próprio.
A crença e a compreensão de um Ser Único, soberano e justo, estão relacionadas com o grau de evolução espiritual de cada criatura.
Foi pelo povo hebreu que recebemos a crença em um Deus único. Naqueles tempos, os povos pagãos cultivavam a crença em vários deuses, cada qual com suas características, seus rituais e oferendas. Moisés e os antigos profetas apresentaram um Deus rigoroso e justiceiro, que deveria ser respeitado e temido. Era uma forma de disciplinar um povo ainda primitivo em suas aspirações. Esse Ser poderia castigar uma criatura, um povo e até uma nação, se caíssem em pecado; dessa forma, todo sofrimento significava um castigo divino. O fato principal, naqueles tempos remotos, era crer na existência desse Ser Único e poderoso, em contraposição aos inúmeros deuses dos pagãos.
Com a vinda de Jesus, esse Ser Supremo foi apresentado como um Pai amoroso, justo e bom. Era a noção que os judeus daquela época necessitavam já que muito sofriam devido ao domínio exercido pelos romanos e a compreensão ainda limitada sobre a Divindade. Jesus lhes mostra que esse Pai deve ser amado com todas as forças do nosso coração. Ensinava assim as primeiras noções de crença e confiança na Providência Divina. Com essa noção mais evoluída sobre a Divindade, o sofrimento deixou de representar um castigo, sendo apresentado como o caminho para a aquisição da felicidade eterna e devendo ser aceito com humildade e resignação. Na oração do Pai Nosso, Jesus nos ensinou a louvar a Deus, de uma forma simples e bela: “Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja o Vosso Nome!”
Com o passar dos séculos, a humanidade, mais amadurecida, passou a questionar esse Ser, que, infelizmente, voltou a ser mostrado como um Pai rigoroso que deveria ser temido. Mentes mais evoluídas faziam indagações para as quais as crenças tradicionais não tinham respostas, o que contribuiu para que muitos deixassem de crer na existência de Deus, tornando-se ateus e materialistas.
Com o advento do Espiritismo, a humanidade estava apta a dar mais um passo na compreensão da Divindade Suprema. Allan Kardec, ao organizar os ensinamentos dos Espíritos Superiores que o assistiam na implantação da Doutrina Espírita, inicia sua obra “O Livro dos Espíritos” com uma pergunta incrivelmente sábia:
1. Que é Deus?
Notemos que Kardec não perguntou “Quem é Deus” (não personificou esse Ser Supremo) e nem “O que é Deus” (nem o considerou como objeto). E a resposta, simples e profunda:
Resposta: Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.
Mais adiante, no mesmo Capítulo 1, da Primeira Parte, itens 10 a 13, estudando os atributos da Divindade, Kardec relaciona alguns dos atributos divinos – aqueles que temos melhores condições de compreender – explicando-os de forma racional e clara: Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom.
Não basta crer em Deus. É preciso confiar n’Ele. Não basta confiar em Deus. É preciso amá-Lo. E não basta amá-Lo. É preciso compreendê-Lo. E para compreendê-lo precisamos conhecer profundamente sua criação. Com esse conhecimento, nosso amor se expande, nossa confiança se amplia, nossa crença se estabelece em bases sólidas.
(Tema apresentado na reunião pública do dia 26 de setembro de 2011)