É comum encontrarmos, entre aqueles
que iniciam os estudos e o desenvolvimento da mediunidade, o desejo (muitas
vezes secreto) de adquirir a vidência, isto é, a faculdade de ver os Espíritos.
Inicialmente, é preciso buscar, nas
orientações de Kardec em “O Livro dos Médiuns”, sua definição para médiuns
videntes (cap. 14 da Segunda Parte, item 167):
“Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os Espíritos. Há os
que gozam dessa faculdade em estado normal, perfeitamente acordados, guardando
lembrança precisa do que viram. Outros só a possuem em estado sonambúlico ou
aproximado do sonambulismo. É raro que esta faculdade seja permanente, sendo
quase sempre o resultado de uma crise súbita e passageira.”
Já em relação ao que se costuma denominar como
clarividência, Kardec tratava como segunda vista ou dupla vista e é no livro
“Obras póstumas” que ele trata especificamente desse tema. A diferença entre a
vidência simples e aquilo que denominamos clarividência fica bem delineada nos
comentários de Kardec. Em linhas gerais ele conclui que o médium vidente comum
vê os Espíritos porque são estes que se fazem ver; em outras palavras, é o
Espírito que quer ser visto e assim, se manifesta ao médium vidente, que assim
registra sua presença.
Nas pessoas que possuem a clarividência, ou segunda vista,
segundo Kardec, a visão do mundo espiritual e dos Espíritos é algo natural,
ocorrendo no estado de vigília, sendo sempre natural e espontâneo. Isso fica
claro nessas palavras que ele anotou em Obras Póstumas:
“É de notar-se que as
pessoas dotadas dessa faculdade não suspeitam possuí-la. Ela se lhes afigura
natural, como a de ver com os olhos. Consideram-na um atributo de seu ser e
nunca coisa excepcional”.
Outro ponto importante em relação à segunda vista é que ela
se desenvolve segundo a moralidade de quem a possui, conforme esclarece Kardec:
“Esse dom da segunda
vista é que, em estado rudimentar, dá a certas pessoas o tato, a perspicácia,
uma espécie de segurança aos atos, o que se pode com justeza denominar golpe de
vista moral. Mais desenvolvido, ele acorda os pressentimentos, ainda mais
desenvolvido, faz ver acontecimentos que já se realizaram, ou que estão prestes
a realizar-se; finalmente, quando chega ao apogeu, é o êxtase vigil.” (vigil é sinônimo de acordado).
Com as elucidações de Kardec sobre o tema, pode-se concluir que a percepção do mundo espiritual se amplia conforme vamos progredindo espiritualmente. Aqueles que a Igreja consagrou como santos, muitos eram
portadores da segunda vista e entravam em verdadeiros êxtases diante das visões
do mundo espiritual. Em compensação, o médium vidente comum só vê um Espírito se este
quiser ser visto.
Como a vidência é um fenômeno subjetivo, é preciso estar
atento sobre os fatos que os médiuns videntes narram sobre aquilo que vêem, já
que muitos, na ânsia de algo mostrarem, acabam sugestionados pela própria
imaginação exaltada. Por esse motivo, é sempre necessário conhecer a índole, o
caráter e a moralidade daqueles que dizem ser videntes.
O exemplo mais próximo que possuímos, em nossos tempos, é o
de Francisco Cândido Xavier. Ele possuía a segunda vista, ou seja, percebia o mundo
espiritual com naturalidade mas, justamente por ser pessoa espiritualmente
muito acima da humanidade comum, essa faculdade já era para ele uma conquista.
Por ser portador de rigorosa disciplina, material e principalmente espiritual, por sua fé inabalável, por sua fidelidade aos ensinamentos de Jesus e Kardec, e mais ainda pelo seu imenso amor ao próximo, ele soube conviver com as duas realidades ao mesmo tempo, sem fazer alarde do que presenciava, sem projetar-se pessoalmente com o que percebia.
Para nós outros, a percepção permanente dos Espíritos e do mundo espiritual certamente nos levaria ao desequilíbrio mental.
Por ser portador de rigorosa disciplina, material e principalmente espiritual, por sua fé inabalável, por sua fidelidade aos ensinamentos de Jesus e Kardec, e mais ainda pelo seu imenso amor ao próximo, ele soube conviver com as duas realidades ao mesmo tempo, sem fazer alarde do que presenciava, sem projetar-se pessoalmente com o que percebia.
Para nós outros, a percepção permanente dos Espíritos e do mundo espiritual certamente nos levaria ao desequilíbrio mental.
Muitas pessoas que se aproximavam de Chico, em busca de orientação para a
mediunidade, diziam a ele o quanto desejavam ser médium vidente, ao que ele
respondia: “quem vê o lírio, também vê o sapo”. Recomendação profunda, em
palavras simples. Como estamos longe da evolução espiritual, certamente
veríamos mais Espíritos sofredores e perturbados do que Espíritos iluminados; veríamos mais quadros de sofrimento do que cenários da Espiritualidade Superior!
Com base nos ensinamentos de Kardec, sobretudo em “Obras
póstumas”, e com os vários exemplos que Chico Xavier nos deixou, podemos dizer:
ao invés de ficar tentando ver Espíritos, voltemos nossos olhos para nós
mesmos, para nossas imperfeições, para nossa necessidade de reforma interior,
buscando adquirir as qualidades que ainda nos faltam.
Ao invés de buscarmos os fenômenos que a vidência pode
proporcionar, voltemos nossa atenção para os ensinamentos que a Doutrina
Espírita nos oferece, estudando e compreendendo melhor a delicada questão da
mediunidade.
(Tema abordado na reunião pública do dia 20 de agosto de 2012)