“No outro dia, ao
saírem de Betânia, Jesus teve fome. Avistou de longe uma figueira coberta de
folhas, e foi ver se encontrava nela algum fruto. Aproximou-se da árvore, mas,
só encontrou folhas, pois não era tempo de figos. E disse à figueira: “Jamais
alguém como fruto de ti!”. E os discípulos ouviram esta maldição.” (Marcos, 11:12-14)
Essa
passagem aconteceu no dia seguinte à entrada de Jesus em Jerusalém, montado em
um burrinho e saudado pelo povo com ramos de palmeiras. Ao final desse dia,
Jesus regressou, junto com os discípulos, para as cercanias da cidade, num
local denominado Betânia, onde residiam os irmãos Lázaro, Marta e Maria, na
casa dos quais Ele costumava se hospedar.
Não
se pode acreditar que Jesus amaldiçoasse qualquer ser vivo, pois isso seria uma
contradição com aquele que representava o amor em sua expressão mais sublime.
Deve-se
entender, portanto, que a figueira foi um símbolo utilizado para representar o
povo de Israel, rebelde e orgulhoso aos ensinamentos que Jesus trazia.
Vista
de longe, a cidade de Jerusalém impressionava. O templo do Rei Salomão se
impunha aos judeus, como expressão máxima da fé judaica. Ali eram tratados
todos os negócios judaicos, fossem nas questões civis ou religiosas, o que
incluía a venda de animais para os sacrifícios e o câmbio de moedas
estrangeiras, pois nesses negócios só se aceitava a moeda do próprio Templo. O
Templo havia se tornado, além de um local para a prática da fé, também um local
de interesses financeiros de tal porte, que os ricos ali deixavam guardados os
seus tesouros, pois era o lugar mais seguro de toda a Israel.
Quando
Jesus sai de manhã, a visão da cidade se assemelhava a uma árvore coberta de
folhas, causando a impressão de grande agitação para a manutenção da vida
religiosa. De fato, qualquer pessoa que se deslocasse a caminho de Jerusalém,
veria aquele cenário imponente da Cida”de sagrada e seu templo rico e
majestoso. Mas eram apenas aparências.
Mais
do que ninguém, Jesus sabia que por trás daqueles muros, os negócios materiais,
com toda a gama de interesses mesquinhos que despertam, dominavam o local
destinado ao cultivo da fé no Deus único. Por esse motivo, ao descortinar tal
paisagem, sabendo que a realidade era outra, Jesus lamentava a postura do povo
judeu, principalmente dos fariseus e dos sacerdotes, os quais passavam a
impressão de serem pessoas irrepreensíveis e fervorosas.
Por
tal motivo, a figueira seca é uma parábola, um símbolo empregado por Jesus para
afirmar que, infelizmente, os judeus apenas aparentavam a ideia de um povo
fervoroso mas, na verdade, aquela fé não produzia nenhum fruto, nem espiritual,
nem moral.
A
expressão “Aproximou-se da árvore”, representa a presença de Jesus perante o
povo judeu, tão próximo da grande cidade, observando e analisando a verdadeira condição
espiritual de seus habitantes. Também podemos interpretar de outra forma: Jesus
se aproximou da humanidade, nascendo e
vivendo entre nós...
Diz
ainda o Evangelista Marcos que, ao sair de manhã, Jesus teve fome. Aqui temos
mais um símbolo: “Sair de manhã”. É
de manhã que surgem os primeiros raios de Sol e a vida recomeça... É o que de
fato Jesus, como Governador Espiritual da Terra, tem feito, desde os primeiros
momentos da formação do nosso planeta e dos primeiros seres vivos que aqui
surgiram... Ele trabalha desde muito cedo, desde as primeiras eras da
Humanidade...
Igualmente
a expressão: “Jesus teve fome”. É
claro que Ele não sentia fome de comida. O sentido de fome aqui é de um anseio:
Jesus anseia ver a humanidade transformada, redimida e evangelizada. E não
adianta apresentarmos a Ele as aparências de uma fé vaidosa e orgulhosa, uma fé
sem obras, uma fé que não produz frutos... Nossa ilusão secará mas, se tivermos
a fé verdadeira, operante e confiante, será possível vencer todas as
dificuldades!
O
evangelista Marcos continua a narração sobre a figueira:
“No dia seguinte,
pela manhã, ao passarem junto da figueira, viram que ela secara até a raiz.
Pedro lembrou-se do que se tinha passado na véspera e disse a Jesus: “Olha
Mestre, como secou a figueira que amaldiçoaste!” Respondeu-lhes Jesus: “Tende
fé em Deus...”
Setenta
anos após a morte de Jesus, a cidade de Jerusalém foi arrasada pelo exército
romano, sob o comando do General Tito. Não sobrou pedra sobre pedra...
Quanto
à resposta de Jesus aos discípulos, ela parece sem sentido, no entanto,
compreendendo o significado do símbolo da figueira seca, fica fácil entender.
Se o povo judeu não vivia conforme a fé que diziam seguir, certamente se
comprometiam consigo mesmos. Mas aquele que realmente tem fé e a vivencia no
auxílio ao próximo, sobretudo, pode alcançar fatos extraordinários, como “mover
uma montanha”.
Allan Kardec, em O
Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. XIX, ensina que a figueira seca
representa todo aquele que pode ser útil mas que não faz nada de bom; são
aqueles que pecam por omissão. Ele inclui aqui os médiuns que não querem se
comprometer com o exercício da mediunidade como forma de exercer a caridade aos
que sofrem moral e espiritualmente.
(Tema abordado na reunião pública do dia 22 de outubro de 2012)