“E a outro disse
Jesus: Segue-me. E ele lhe disse: Senhor, permite-me que vá eu primeiro
enterrar meu pai. E Jesus lhe respondeu: Deixa que os mortos enterrem os seus
mortos, e tu vai, e anuncia o Reino de Deus.” (Lucas, 9:59-60)
Essa
passagem se deu logo após o Sermão da Montanha, portanto, a pessoa a quem Jesus
dirige o convite possivelmente tenha ouvido as palavras de Jesus.
Quando
Ele faz o convite ‘Segue-me’, não estava dizendo a essa pessoa que abandonasse
os seus afazeres, os seus compromissos de trabalho e com a família para
segui-Lo, fisicamente falando. Era um convite para que seguisse Seus
ensinamentos, onde quer que essa pessoa desenvolvesse suas atividades. É
preciso destacar que, se essa pessoa ouviu os ensinamentos de Jesus, entendeu o
convite que o Mestre lhe fazia.
Respondendo
a Jesus que primeiro deveria enterrar seu pai, isso não quer dizer que seu pai
tivesse acabado de morrer. Se isso realmente tivesse acabado de acontecer, é
claro que Jesus não o reprovaria por tratar do sepultamento do próprio pai. Na
forma e no momento em que foi utilizada, essa frase é uma expressão
significando que preocupações de
ordem material não permitiram a essa pessoa seguir os ensinamentos de
Jesus.
É
grande a relação de desculpas daqueles que não estão dispostos a modificar seus
hábitos para aplicar os ensinamentos de Jesus em suas vidas. Estão sempre jogando
para o futuro o compromisso de vivenciar as lições trazidas por Jesus.
A
frase mais difícil de ser compreendida é a resposta de Jesus: ‘Deixa que os
mortos enterrem seus mortos’. ‘Morto’
é alguém que viveu, ou seja, era uma pessoa, uma individualidade que perdeu a
consciência da vida ao seu redor, que parece estar ‘dormindo’. Como é possível
então que alguém que já tenha morrido enterre aquele que acabou de morrer? Se
tomarmos essa palavra ao pé da letra, ela fica totalmente sem sentido.
Portanto, não é esse o seu significado original.
A
palavra ‘morto’, nessa passagem, representa aqueles que não despertaram para as
realidades da vida espiritual. Passam a vida centralizando toda a sua atenção e
suas preocupações somente em torno da vida material e de si mesmos. Passam a
vida toda como que adormecidos, ‘mortos’, para as belezas da vida, em seus
aspectos sublimes e espirituais.
Vemos,
com isso, a lógica da resposta de Jesus. Aquela pessoa havia acabado de ouvir
Seus ensinamentos, no qual Ele falava do Reino de Deus, da felicidade na vida
futura, que é a vida espiritual, reservada aos que seguissem Suas lições. Mas,
as preocupações, os interesses e as atividades da vida material lhe absorviam
totalmente, deixando-o como que morto, adormecido, para a sublime realidade
espiritual.
É
imenso o número de pessoas que passam a vida toda sem despertar para as
realidades do espírito. Considerando que devem ser felizes ‘a qualquer preço’,
investem todas as suas forças na satisfação de suas vaidades e ilusões. Tão
preocupados vivem que não se lembram da morte e quando ela surge, desequilibram-se
diante dessa verdade incontestável.
Jesus
fez ainda outro convite a essa pessoa: ‘vai e anuncia o Reino de Deus’. Após
ter ouvido as lições do Mestre, no sermão do monte, aquela pessoa já estaria
apta a passar adiante os ensinamentos recebidos. Retornando às suas atividades
e aos seus entes queridos, encontraria inúmeras oportunidades de passar adiante
o que tinha ouvido do próprio Mestre.
Utilizando
a expressão ‘deixa que os mortos cuidem de seus mortos’, Jesus lhe dizia, para
que não se inquietasse com as necessidades do corpo e da vida material, que são
passageiras, mas que dedicasse mais tempo às necessidades do Espírito, que é
imortal; que ensinasse aos seus que nossa pátria verdadeira é o mundo
espiritual (Reino dos Céus) e que a vida espiritual é a vida normal do
Espírito, que seremos felizes nesse Reino se cumprirmos as leis de Deus, que
Jesus veio ensinar e exemplificar.
Não
é o acaso que nos coloca diante dos ensinamentos de Jesus. E a partir do
momento em que eles nos alcançam, surge em nosso íntimo o Seu convite:
‘Segue-me’... Se não conseguirmos colocá-los em prática, auxiliando igualmente
na sua divulgação; se passamos a relacionar desculpas evasivas para sua
aplicação, é porque ainda nos encontramos ‘mortos’ para a realidade espiritual
da vida...
Ensina o benfeitor espiritual Emmanuel pela psicografia de Chico Xavier, no livro “Fonte
Viva”, (cap. 143):
“Sai,
cada dia, de ti mesmo, e busca sentir a dor do vizinho, a necessidade do
próximo, as angústias de teu irmão e ajuda quanto possas.
Não
te galvanizes na esfera do próprio ‘eu’.
Desperta
e vive com todos, por todos e para todos, porque ninguém respira tão-somente
para si.
Em
qualquer parte do Universo, somos usufrutuários do esforço e do sacrifício de milhões
de existências.
Cedamos algo de nós
mesmos, em favor dos outros, pelo muito que os outros fazem por nós.”.
(Tema abordado na reunião pública do dia 12 de novembro de 2012)