Desde os tempos mais longínquos, os homens se reúnem para a realização de celebrações. No princípio, essas comemorações estavam mais particularmente relacionadas aos fenômenos da natureza tais como as estações do ano, a época das colheitas, etc. Também se incluem as celebrações relacionadas às divindades protetoras, como por exemplo, os deuses da caça, da pesca, do sol, do trovão, das matas. Incluem-se também as festas religiosas, que todos os povos e nações, de alguma forma, realizam.
Se
no princípio essas comemorações se caracterizavam pela simplicidade e até mesmo
por uma certa ingenuidade, não demorou muito para que os homens aproveitassem
esses momentos para extravasar seus vícios e paixões inferiores, como uma
válvula de escape. Aquilo que a princípio era considerado como sagrado começou
a ser invadido pelo profano.
Embora
nosso mundo ainda seja de expiações e provas, Deus permite à humanidade momentos
de alegria, necessários para a vida em comum e para fortalecimento da confiança
e da esperança na bondade e na misericórdia divinas. Mas há que se fazer uma
distinção entre as alegrias mundanas e as alegrias espirituais e o grande
desafio está em se deixar as primeiras para se conquistar as segundas: as
alegrias do coração.
Há
uma falsa concepção, que atravessa os séculos, de que para se mostrar cristão
seja necessária uma aparência severa, fechada, carrancuda. Tanto é verdade que
os adeptos de certas crenças são caracterizados justamente pela maneira como se
vestem ou com as características físicas que apresentam, sempre austeras.
Sobre
essa questão há um oportuno esclarecimento em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, na Capítulo XVII, item 10, na mensagem
cujo título é “O homem no mundo”. O
autor espiritual afirma:
“Não penseis, porém, que ao vos exortar
incessantemente à prece e à evocação mental, queiramos levar-vos a viver uma
vida mística, que vos mantenha fora das leis de sociedade em que estais
condenados a viver. Não. Vivei com os homens do vosso tempo, como devem viver
os homens; sacrificai-vos às necessidades, e até mesmo às frivolidades de cada
dia, mas fazei-o com um sentimento de pureza que as possa sacrificar.”
De
fato, o verdadeiro cristão deveria ser um perene otimista, já que é conhecedor
das promessas de Jesus para a vida futura. E o espírita, particularmente, mais
ainda, pois é conhecedor das leis que regem a vida material e a espiritual, as
quais acarretam conseqüências morais baseadas nos ensinamentos de Jesus. Por
isso a recomendação do benfeitor espiritual na mensagem acima citada:
“Estai sempre alegres e contentes, mas
com a alegria de uma boa consciência e a ventura do herdeiro do céu, que conta
os dias que o aproximam de sua herança.”
É
importante destacar que o Espiritismo nada proíbe, já que todos, sem distinção,
são dotados da liberdade de escolher o que melhor lhes convém. Portanto, a
questão não é proibir a participação nos momentos de alegria que a condição
humana permite, mas sim o exame da própria consciência: o que se pretende fazer
acarretará algum prejuízo ao próximo? Acarretará algum prejuízo a si mesmo?
Essa advertência não deixou de ser citada na mensagem do benfeitor espiritual:
“Sede felizes no quadro das necessidades
humanas, mas que na vossa felicidade não entre jamais um pensamento ou um ato
que possa ofendera Deus, ou fazer que se vele a face dos que vos amam e
dirigem.”
Para
aqueles que consideram necessário participar de tantas festas, incluindo as
coletivas, para “aliviar as tensões” – dizem eles – vale o conselho desse
benfeitor espiritual:
“Basta referir todos os vossos atos ao
Criador, que vos deu a vida. Basta, ao começar ou acabar uma tarefa, que
eleveis o pensamento ao Criador, pedindo-lhe, num impulso da alma, a sua
proteção para executá-la ou a sua benção para a obra acabada. Ao fazer qualquer
coisa, voltai o vosso pensamento à fonte suprema; nada façais sem que a
lembrança de Deus venha purificar e santificar os vossos atos.”
No
entanto, para aqueles que já não se encantam com as alegrias mundanas, que já
descobriram o quanto é necessário saber aproveitar construtivamente o tempo de vida
aqui na Terra, estes vão percebendo que existem outras alegrias: as alegrias
espirituais. E sobre estas, há valiosa sugestão em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, em belíssima mensagem
intitulada “A beneficência” (cap.
XIII, item 11), do benfeitor espiritual Adolfo, bispo de Alger. Afirma ele:
“A beneficência, meus amigos, vos dará
neste mundo, os gozos mais puros e mais doces, as alegrias do coração, que não
são perturbadas nem pelos remorsos, nem pela indiferença.”
É importante
destacar, nessa frase, que as alegrias mundanas podem apresentar, como consequência,
o remorso e a indiferença... Por esse motivo é que ele destaca a grande
diferença entre as alegrias mundanas e as alegrias do coração, justamente pelos
efeitos que cada uma proporciona:
“Quais as festas mundanas que se podem comparar
a essas festas jubilosas, quando, representantes da Divindade, levais a alegria
a essas pobres famílias, que da vida só conhecem as vicissitudes e as amarguras”.
Acrescenta
o generoso benfeitor que as alegrias do coração, conquistadas pela prática da
caridade, proporcionam “infinitas
alegrias para o próprio futuro, o antegozo das alegrias que mais tarde
desfrutarão.” E aconselha com humildade:
“Possam os meus irmãos encarnados crer
na voz do amigo que lhes fala e lhes diz: É na caridade que deveis procurar a
paz do coração, o contentamento da alma, o remédio para as aflições da vida.”
A
alegria do coração consiste em promover a alegria do próximo que, por algum momento,
se encontra em desvalimento, seja material ou espiritual. Nesses momentos o
homem atua como um “representante da
Divindade”. A bondade e a generosidade constantes em favor do próximo resultarão
em alegrias espirituais sublimadas. Foi o que ele afirmou: “Colhereis neste mundo alegrias bem suaves, e mais tarde... somente
Deus o sabe!”
Há uma canção muito conhecida no meio
espírita: é a “Canção da alegria cristã”,
cujo autor foi Leopoldo Machado (1891-1957). Jornalista, professor, escritor, grande
incentivador das confraternizações espíritas e da união entre os mesmos,
vivenciou a Doutrina Espírita em toda a sua plenitude. A letra singela dessa canção
deixa a todos o exemplo claro de como vivenciar esses momentos:
Canção da alegria cristã
Somos
companheiros, amigos, irmãos,
Que
vivem alegres, pensando no bem.
A
nossa alegria é de bons cristãos,
Não
ofende a Jesus, nem fere a ninguém.
A nossa alegria é bem do Evangelho.
Vibra e contagia da criança ao velho,
Mesmo entre perigos daremos as mãos,
Como bons amigos, como bons cristãos.
Sempre
ombro a ombro, sempre lado a lado,
Vamos
trabalhar com muita alegria,
Pelo
Espiritismo mais cristianizado
Pela
implantação da paz e harmonia.
A
nossa alegria é bem do Evangelho.
Vibra
e contagia da criança ao velho,
Mesmo
entre perigos daremos as mãos,
Como
bons amigos, como bons cristãos.
(Tema abordado na reunião pública do dia 11 de fevereiro de 2013)