No Sermão das Exortações (Sermão do Monte), Jesus nos deixou uma recomendação muito importante em relação à maneira como nos dirigimos ao nosso semelhante quando estamos aborrecidos, magoados ou irritados com alguém:
“Pois eu vos digo que todo o que se irar contra o seu irmão será réu no juízo; e o que disser a seu irmão racca, será réu no conselho; e o que disser és louco, merecerá a condenação do fogo do inferno.” (Mateus, Cap. V, 21-22).
Notemos que Jesus condenou toda e qualquer expressão agressiva em relação ao nosso semelhante: não somente o sentimento de raiva mas também as ofensas verbais. Estejamos ou não com a razão, Ele não questiona se nos sentimos magoados, aborrecidos ou zangados com alguma pessoa. Ele simplesmente nos recomenda o que devemos fazer nessas ocasiões a fim de resguardarmos nosso equilíbrio íntimo.
Para nós ainda é muito difícil seguir, à risca, tais ensinamentos. Quando nos aborrecemos com alguém, ao ponto de sentirmos raiva e até mesmo ódio, dificilmente nos lembramos dessas recomendações. Rapidamente perdemos o autocontrole e partimos para as agressões verbais, normalmente através de palavrões ou palavras ofensivas. Há pessoas que até se rotulam como sendo de “pavio curto”. Outras, ainda são mais descontroladas, dizendo que nem pavio têm mais: já estouram na hora.
Infelizmente, o uso corriqueiro de palavrões, não apenas nos momentos de descontrole emocional, mas fazendo parte de nossa maneira de se expressar, tornou-se uma prática comum em nossa cultura. Para muitos, representa até um ‘status’, principalmente entre os jovens. Encontramos famílias onde os adultos se divertem, ensinando palavrões aos filhos pequenos, os quais os repetem sem terem a menor idéia do que estão falando, mais parecendo papagaios de imitação.
Se Jesus colocou essas recomendações em seu Sermão, é porque a prática da agressão verbal também era comum entre os judeus daqueles tempos. A palavra ‘racca’, no idioma hebraico, significava homem reles, de pouco valor, e era dirigida a alguém cuspindo-se de lado. Para aquele que praticava tal gesto, era uma forma de dizer o quanto desprezava uma pessoa. Para quem o gesto era dirigido, significava um grande insulto. Jesus alerta sobre as conseqüências dos gestos e palavras agressivas: o sofrimento moral causado pela consciência culpada, simbolizada pelo “fogo do inferno” que, cedo ou tarde, se manifestará naquele que os utiliza.
Jesus ainda nos deixou outro ensinamento relativo à falta de caridade no falar: não é o que entra pela boca que torna o homem impuro, mas sim, o que sai da boca, porque isso vem do coração. Ou seja, externamos, pela palavra falada, nosso mundo íntimo. Quando alimentamos sentimos agressivos contra alguém, estejamos ou não com a razão, e externamos esses sentimentos através de palavras ofensivas, demonstramos o quanto estamos descontrolados emocionalmente.
A palavra agressiva causa vibrações muito negativas ao nosso redor, espiritualmente falando, assemelhando-se a uma bomba que explode ruidosamente. E, muitas vezes, por causa de palavras agressivas, que pronunciamos no ambiente onde nos encontramos, desequilibramos totalmente as possibilidades de harmonização, correndo o risco de alterarmos a estabilidade emocional aqueles que estão ao nosso redor, como num efeito dominó.
Somos tão cuidadosos em relação à higiene pessoal, à qualidade dos alimentos e da água, à limpeza de nossa casa, aos sistemas sanitários, aos medicamentos, etc. No entanto, geralmente nos esquecemos dos cuidados relativos à palavra falada. Pensemos no que gostaríamos de ouvir dos outros, em nossos momentos infelizes, antes de perdermos o equilíbrio próprio. Afinal, o maior prejudicado somos nós mesmos.
Sobre essa grave questão, o Espírito Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, nos deixou valiosa advertência:
“Nossa conversação, sem que percebamos, age por nós em todos aqueles que nos escutam. Nossas frases são agentes de propaganda dos sentimentos que nos caracterizam o modo de ser; se respeitáveis, trazem-nos a atenção de criaturas respeitáveis; se menos dignas, carreiam em nossa direção, o interesse dos que se fazem menos dignos; se indisciplinadas, nos sintonizam com representantes da indisciplina; se azedas, afinam-nos, de imediato, com os campeões do azedume. Controlemos o verbo, para que não venhamos a libertar essa ou aquela palavra torpe. Por muito esmerada nos seja a educação, a expressão repulsiva articulada por nossa língua é sempre uma brecha perigosa e infeliz, pela qual perigo e infelicidade nos ameaçam com desequilíbrio e perversão.” (Livro: Palavras de vida eterna – cap. 164).
(Tema apresentado na reunião pública do dia 22 de agosto de 2011)