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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O que me falta ainda?


Livro: Quem é o Cristo? - Médium: J. Raul Teixeira

Há uma passagem nos Evangelhos conhecida como a estória do jovem rico, citada em Mateus, Marcos e Lucas. Vamos destacar o relato de Mateus (vers. 18-22). Vejamos o diálogo que se estabelece entre ele e Jesus.
Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus: Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos. Quais? Perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda? Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me! Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste porque possuía muitos bens.
Passando por esse trecho, sem nos atermos aos detalhes desse diálogo, podemos pensar que aquele jovem estava sinceramente interessado em ser bom. No entanto, analisando atentamente suas perguntas e as respostas de Jesus, encontramos algo muito diferente do que inicialmente supúnhamos. Analisemos cada trecho.
Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus: Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom.
Parece estranho que Jesus tenha dado essa resposta à pergunta do jovem, mesmo porque, inicialmente, supomos que ele esteja realmente imbuído de boas intenções ao se aproximar do Mestre. Notemos que o jovem disse “fazer de bom” e não “ser bom”. Jesus corrige seu pensamento afirmando que somente Deus é bom; que, por enquanto, por mais nos esforcemos, ainda nos encontramos longe da verdadeira bondade de coração. Além disso, para fazer algo de bom não implica em ser necessariamente bondoso ou generoso.
Se queres entrar na vida, observa os mandamentos. Quais? Perguntou ele.
Jesus, que conhecia bem as verdadeiras intenções daquele jovem, conduziu o diálogo de forma que o fundo do seu coração viesse à tona. Convidou o rapaz a cumprir os mandamentos das leis de Deus, descritas na Tora. Mas o jovem, sabendo que são muitos os mandamentos de Moisés e dos Profetas, quer saber quais ele deveria seguir.
Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo.
Jesus não citaria esses mandamentos se não houvesse uma necessidade. Por que esses e não outro qualquer? Possivelmente porque esses, em particular, tivessem alguma relação com o tipo de vida ou com as atividades que o jovem rico exercia. A riqueza, nos tempos de Jesus, era obtida principalmente devido às atividades do comércio de mercadorias produzidas na região ou importadas de outras. O trabalho no comércio exige e proporciona o desenvolvimento da fraternidade. Talvez por isso Jesus tenha citado as regras do bom procedimento para essa área de atividades.
Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda?
Ao responder o que desde a infância o jovem seguia esses mandamentos não significa que ele, efetivamente, os cumprisse. Assim como ele, conhecemos as leis de Deus, mas nem sempre as colocamos em prática. Além disso, o jovem quis mostrar igualmente a boa educação que havia recebido. Mas, é justamente a pergunta que faz a Jesus que levanta toda a questão dessa passagem do Evangelho: “o que me falta ainda?” Aqui temos duas possibilidades: esse jovem, apesar de ser muito rico, sentia que algo lhe faltava na vida, mas não sabia definir o que seria; mesmo observando os mandamentos da Lei, não encontrava sentido para sua existência. A outra possibilidade está relacionada com a maneira pela qual ele se aproximou de Jesus: com a soberba de quem já se considerava quite com as leis de Deus mas queria apenas uma aprovação, aumentando assim o seu orgulho e sua vaidade pessoal.
Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me! Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste porque possuía muitos bens.
Quando tentamos nos aproximar de Jesus, trazendo conosco nossa bagagem de vaidosas ilusões, descobrimos que Sua mensagem é um convite incessante à prática do amor, da caridade e da humildade, combatendo justamente o orgulho e o egoísmo que ainda nos caracterizam a personalidade. Julgamos, erroneamente, que Seus ensinamentos poderiam, de alguma forma, alimentar nossa vaidade pessoal, a qual é tão sutil que se disfarça de mil modos...
Percebendo nosso engano, afastamo-nos, cabisbaixos e entristecidos, colocando-nos como vitimados pela incompreensão. Nesses momentos nos perguntamos o que é que ainda nos falta... E Jesus nos responde: falta desprendimento...
Quando Ele fala de desprendimento, de desapego, não se refere apenas aos bens materiais mas também à preocupação excessiva em torno deles. Como dedicaremos algo de nosso tempo às questões de natureza espiritual, imprescindíveis à nossa felicidade futura, se nossa atenção está totalmente voltada às questões de ordem material?
Foi isso que o jovem rico não conseguiu compreender naquele momento. Considerando-se quite com as leis da Tora, pensava em conseguir somente a aprovação de Jesus para suas realizações de ordem material. Ele não tinha intenção de tornar-se bom; queria apenas fazer algo de bom, o que, em muitos casos, é um meio de alimentarmos nossa vaidade. E ficamos frustrados quando não conseguimos alimentá-la...
Em nossos momentos de desânimo diante dos ensinamentos de Jesus, mesmo acreditando em suas orientações, quando perguntamos a nós mesmos o que estaria nos faltando, recordemos essa lição: falta desprendimento, de tudo e de todos, dos bens materiais, da posse sobre os outros, do domínio sobre toda e qualquer situação...  O desprendimento nos predispõe à tranquilidade mental para conseguirmos dar um pouco mais de atenção à sublime mensagem de Jesus...
(Tema abordado na reunião pública do dia 13 de fevereiro de 2012)